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Coisas que pingam

Em um ou dois textos anteriores mencionei que ia escrever sobre construção, uma vez que a experiência de construir casa tem comido com farofa minha reserva cognitiva nos últimos três anos.

Ainda não decidi por onde começar, mas tem um tópico com que estou brigando nos últimos dias: hidráulica, em particular conexões rosqueáveis. Até meu encanador tomou um ou dois olés — você nunca espera que um registro instalado por encanador vá vazar, mas acontece. Detesto mexer com hidráulica, mas até por detestar, a gente procura opções melhores do que o pão-com-manteiga, para fazer direito uma vez e poder esquecer que o troço existe.

Assim, acho que tenho algumas informações que pode interessar aos pobres maridos mundo afora, a quem sempre cabe consertar as coisas que pingam e as coisas que soltam faíscas.

Fita veda-rosca é coisa do capeta

Em tese, basta ler a embalagem: 5 a 8 voltas de fita teflon, enrolada no sentido horário com a rosca voltada para você, e pronto. Com pouca fita teflon, a torneira ou conexão rosqueiam fácil. Uma vez que canos de água têm rosca cônica, em tese eles vedam por si mesmos; a utilidade do teflon é quase que exclusivamente lubrificar a rosca.

Essas instruções NUNCA funcionaram para mim. Nunca!!!

Mas, como eu sou um trouxa, a cada tantos anos tento novamente obedecer as instruções, por medo de colocar fita em excesso e estourar alguma conexão. O resultado é sempre um vazamento, em geral daquele que demora 1h para formar uma gota, o que o torna ainda mais inconveniente.

Figura 1: O pesadelo do sistema: uma gota que mina por baixo da fita teflon. A rosca desse registro é muito afiada e corta o teflon. Não ajuda o fato da rosca macho não ter penetrado um número suficiente de voltas, provavelmente por culpa do excesso de teflon.

TL;DR achei algo infinitamente melhor: fio veda-rosca Loctite 55. Lembra muito um fio dental. É até difícil de acreditar que funciona, mas funciona. É insuperável em roscas metal-plástico ou metal-metal, sempre funciona de primeira.

Faça um favor a si mesmo e compre um carretel de Loctite 55; não é tão barato como a fita veda-rosca, mas vai durar a vida inteira.

Outra vantagem do Loctite 55 é permitir ajustes de até 1/4 ou 1/3 de volta, o que é muito conveniente ao instalar torneiras e chuveiros. A fita teflon pode deixar de vedar ao menor movimento anti-horário. O rosquear é mais pesado com fio do que com fita, mas nada que faça medo.

Outra coisa curiosa é que não é necessário colocar o fio exatamente dentro da rosca, embora certamente fique mais bonito. O importante é a) respeitar o número recomendado de voltas para cada bitola, para não "embuchar" demais a rosca; e b) concentrar as voltas na parte da rosca que vai trabalhar, principalmente se macho ou fêmea for meio curto(a), com apenas 5 ou 6 voltas úteis.

Figura 2: Mesmo registro de gaveta da foto anterior, agora vedado com sucesso pelo Loctite 55, mais uma penetração suficiente da rosca.

A única situação que o fio veda-rosca não funciona é quando há uma grande folga entre conexões. Aconteceu comigo ao instalar uma torneira de plástico, daquelas bem baratinhas, que rosqueava com uma folga enorme (certamente está fora de padrão). Neste caso, usar teflon é a solução pois com ele conseguimos engrossar artificialmente a rosca.

Pode-se tentar também usar o fio e mais o teflon por cima. Não é ideal, mas fui obrigado a fazer isso para vedar conexões de gás 1/2" metal-metal, de rosca reta, que tinham muita folga, e estavam difíceis de fazer vedar com apenas um dos materiais. Alguns encanadores sempre usam essa combinação quando se trata de gás (GLP, ar comprimido).

Também usei esse método (fio + fita) com uma torneira metálica que não tinha folga exagerada, mas tinha (rosqueava 6 voltas sem resistência) e vazou um pouco usando apenas fio. Meia dúzia de voltas de fita proporcionou aquele 1% de preenchimento que faltava.

Outra situação em que o fio não funciona é quando o passo de rosca é mais fino que o de conexões de água. Em reguladores de gás é comum encontrar conexões de 1/8" a 3/8" com passo de rosca bem fininho. O teflon conforma-se a qualquer passo de rosca (e no caso específico do regulador de gás, um vedante líquido anaeróbico seria o ideal).

Ainda uso teflon em roscas plástico-plástico, cuja tendência de cortar o teflon é menor, e que o próprio aperto das duas roscas cônicas já faz 99% da vedação. Com fita teflon, é possível rosquear mais profundamente, o que também é importante para a vedação. Mas a quantidade necessária de fita é sempre maior do que aquelas 5 a 8 voltas do manual. Meu pai tinha uma regra: colocar teflon até a rosca praticamente sumir, o que dava 20 ou 25 voltas. Isto é um pouco demais; em geral umas 15-16 resolvem.

Da última vez que instalei um chuveiro elétrico, o manual desaconselhava alternativas à fita teflon. Pode ser porque neste caso a conexão tem de suportar peso além de vedar, no que o enchimento do teflon ajuda.

Se você vai instalar uma conexão metálica, e só tem fita teflon, o jeito é tentar até conseguir. Algumas roscas têm mais tendência de cortar a fita que outras. No YouTube alguns encanadores sugerem formar um cone com a fita teflon, outros enrolam a fita, transformando-a em fio e então aplicando na rosca. Não tentei nada disso ainda, mas quem sabe funcione para você.

A conexão mais chata

Por algumas experiências pessoais, acredito que a conexão de parede mais chata de fazer vedar é a de PVC azul, com bucha de latão. Pode ser um T ou um joelho, para interfacear com torneiras, flexíveis, chuveiros, etc.

Figura 3: Conexão de água fria mais comum nas paredes das nossas casas: rosca parte em latão, parte em plástico. Ela tem grande tendência de vazar.

A peça equivalente em CPVC para água quente tem rosca de latão em 100% do comprimento, pelo fato do CPVC ser mais quebradiço. Contra-intuitivamente, tem menos tendência de vazar que a azul.

Quando se trata de rosquear objeto metálico NPT no PVC azul, como uma torneira, o fio veda-rosca até que costuma acertar de primeira. Se for objeto de plástico, mesmo um simples niple ou bujão, não raro vaza. E se o objeto tiver rosca reta BSP (que de qualquer forma é errado misturar com NPT), aí a vedação é quase impossível.

O segredo da conexão azul é que a peça-macho deve rosquear fundo o suficiente, com aperto bem justo. Se entrar frouxo até o fim de curso, vaza. Se encher de teflon e arrochar quase até o ponto de ruptura, mas entrou apenas 3 fios de rosca, vaza. O vedante tem de ser na quantidade certa para atingir o equilíbrio, o que envolve alguma tentativa-e-erro.

Figura 4: Bujão vedado com sucesso após 3 tentativas, mediante emprego de Loctite 55 em quantidade suficiente, uso de peça nova, rosqueada com profundidade suficiente, com torque razoável (evidenciado pela mordidas da chave na ponta quadrada).

Ainda não descobri o motivo disso. Acredito que seja devido à rosca parte em latão, parte em plástico, que trabalham diferente. Talvez o macho tenha de entrar fundo o suficiente para formar um selo com a parte plástica.

Quando fizer algum trabalho que envolva essa peça azul, nunca confie 100%. Deixe aberto para inspeção por um par de dias, pois o vazamento típico é insidioso, demora horas para formar uma gota. (Tal vazamento não seria suficiente para danificar a alvenaria, mas certamente causaria estragos dentro de um móvel MDF.)

Se a peça macho é de plástico, considere usar peças novas, se possível do mesmo fabricante da peça fêmea azul. Depois de uns 2 ou 3 apertos, a rosca-macho tende a ficar estragada, ficando ainda mais suscetível a vazar. O sintoma é uma certa dificuldade de rosquear, com uma tendência de entrar cruzado.

Tipos de fita teflon

As fitas teflon variam em espessura e densidade. Só entre as fitas brancas à venda, a espessura varia entre 0.07mm a 0.1mm (40% de variação), e a densidade varia entre 0.3g/mL e 0.5g/mL (60% de variação). Então, qualquer regra do tipo "x voltas" é automaticamente furada.

Porém, a minha impressão é que as fitas atuais são mais finas e elásticas do que antigamente. Lembram quase uma teia de aranha, de tão diáfanas. Roscas metálicas cortam-na facilmente. Ao desmontar a conexão, não fica nada sobrando na rosca, então obviamente não estava vedando.

As fitas de teflon antigas lembravam vagamente um esparadrapo, sendo mais consistentes e pouco elásticas. Junto com uma bomba de água fabricada na China, veio um pequeno carretel de fita com essas características. Coincidência ou não, as conexões feitas com ela vedaram de primeira.

A fita branca padrão tem densidade de 0.3g/mL, mas existem fitas mais densas, com destaque para a Tupy, com 0.5g/mL, equivalente à fita amarela. A fita amarela é oferecida como "fita para gás", com densidade padrão de 0.5g/mL. Exceto pela cor, é o mesmo material da fita branca. 8 voltas dessa fita equivalem a 15 ou 20 da outra, apesar da espessura ser aproximadamente a mesma! Aí sim a regra das "5 a 8 voltas" tem alguma chance de funcionar.

Mais difícil de encontrar é a fita rosa, usada pelos gringos. Novamente, trata-se do mesmo material que as outras, de mesma espessura também, com densidade (0.4g/mL) intermediária entre a branca e a amarela.

Nos EUA, a fita branca só é aprovada para conexões até 3/8". Conexões entre 1/2" e 2" devem usar a fita rosa ou amarela (e lá a prefeitura fiscaliza esse tipo de detalhe). Nossa conexão mais comum é de 1/2", mas usamos fita branca, cuja densidade é muito baixa para essa bitola. Isso bate com minha impressão geral de insuficiência da fita teflon.

Se não quiser ficar lendo ficha técnica de fabricante (e nem todos publicam), e quiser ter uma boa fita teflon na caixa de ferramentas, compre a fita amarela. Ela não é imune a roscas metálicas particularmente afiadas, o Loctite 55 ainda é a "primeira resposta", mas para aquelas situações onde só a fita resolve, a amarela resolve melhor.

Pressão de água ou gás

Uma coisa chata de conexões roscáveis é que elas podem funcionar a determinada pressão, e vazar em outra. A maioria dos encanadores está acostumado a fazer instalações com pressão típica de rua (10 m.c.a.) e gás de cozinha para fogão (0,28 m.c.a).

Quando a instalação adota uma bomba pressurizadora (25-45 m.c.a.) ou a canalização de gás alimenta um aquecedor (10-20 m.c.a. até o regulador secundário) começam a aparecer os vazamentos.

Todo circuito hidráulico tem de ser obviamente testado na pressão de trabalho. Mas a chance de vazar com fita teflon é maior que com o fio veda-rosca. Com a fita teflon, fica sempre aquela escolha de Sofia entre colocar fita demais e arrochar, ou fita de menos e vazar. Já com o Loctite 55, você usa o número de voltas recomendado, que se traduz num torque de aperto previsível, e a vedação acontece sob qualquer pressão (até o limite do produto que é 200 m.c.a.).

Outros tipos de vedação

Há alguns vedantes no estado líquido ou pastoso. Parecem ser muito mais populares no exterior do que aqui. Há inclusive uma linha de pensamento (não é unânime, mas há) de nunca aplicar fita teflon em PVC pois ela "engorda" a rosca e aumenta as chances de quebra por excesso de aperto.

De fato um vedante líquido tem potencial pois amolda-se a qualquer espaço vazio. Porém, nunca usei, e não acredito que vá usar tão cedo, pois

a) todos exigem conexões secas, e alguns têm um longo tempo de cura. Nós amadores vamos sempre mexer em instalações já cheias de água, e queremos usar imediatamente;

b) são produtos com prazo de validade curto. Um amador usaria 5% da embalagem, ou pior, usaria vencido;

c) sua capacidade de preenchimento de folgas é muito limitada. Pode-se conjugar com fita teflon para tirar a folga, mas o ponto era justamente não ter de usar mais fita teflon.

d) produtos realmente bons para conexões metal-metal, como o Loctite 577, são caríssimos.

Misturando vedantes

Não gosto muito da ideia de misturar vedantes, porém muitos encanadores de Internet recomendam algumas combinações, e juram que funciona, então estou passando adiante a informação.

Um encanador recomenda passar umas poucas voltas de teflon sobre o Loctite 55 em conexões de ar comprimido. Coincidência ou não, fui obrigado a fazer o mesmo com uma conexão de gás, por ser rosca reta que tem muita folga, e foi o que resolveu.

Outra combinação comum na gringa é pasta de vedação sobre fita teflon. Eles têm uma ampla variedade de pastas à disposição, mas um ou dois brasileiros fazem o mesmo com a Tekbond 204.

Pelo menos dois encanadores brazucas que eu vi têm vídeos recomendando passar cola de CPVC sobre a fita teflon. Não vejo como isso pode funcionar, pois "cola de PVC" não é cola, e sim solvente com um pouco de PVC dissolvido dentro.

O pior é besuntar a fita com adesivo para junta de motores diesel, que provavelmente é tóxico. E infelizmente há muitos praticantes desse absurdo por aí, tanto que se encontra à venda em muitas lojas de materiais de construção.

Torque de aperto

O grande medo do encanador ao colocar excesso de fita teflon é torquear demais a conexão, quebrando alguma coisa. Mas, por incrível que pareça, não se encontra lugar nenhum qual seria o torque máximo de uma conexão PVC. Isso abre espaço para chutometrias e crendices.

O padrão NPT (roscas cônicas para hidráulica) especifica, para cada bitola, um "torque angular". Por exemplo, para roscas de 1/2", 4.5 voltas à mão, mais 3 voltas com chave. Para roscas de 3/4" é basicamente a mesma coisa.

A regra acima não leva em conta qualquer selante que engrosse a rosca, tipo fita teflon, então é preciso exercitar algum julgamento, principalmente ao usar fio veda-rosca, provavelmente não será possível fazer as 7.5 voltas.

Sabendo o aperto padrão (7.5 voltas) podemos usar esse número para estimar a folga de uma peça. Se ela rosquear sem resistência por mais de 4 voltas, está folgada e provavelmente exigirá mais vedante que o usual. Se rosquear menos, é uma peça apertada e não deve ser forçada até 7 voltas. A "distância" do ideal de 4 voltas vai mostrar o desvio — uma peça que dá aperto na segunda volta, ou não dá aperto antes do fim de curso, está absurdamente fora de especificação e não deve ser usada.

Alguns materiais na Internet sugerem algo como 3Nm de torque típico para conexões de 1/2". Considerado a força que uma pessoa normal consegue fazer com os dedos (só com os dedos, sem agarrar a ferramenta, muito menos usar o peso do corpo) é de 30N, isso se traduz em um aperto desconfortável (para a mão) com uma ferramenta de 10cm. Se usar uma chave de 20cm, o aperto não deve ir além da faixa de trabalho confortável.

Para conexões de 1", como as encontradas na saída de bombas, o torque de aperto é 8Nm, exigindo 40N com a mesma ferramenta de 20cm, aí sim tem de fazer força no limite do desconforto para um aperto suficiente.

Use uma ferramenta civilizada, tipo uma chave de bomba pequena ou uma chave inglesa pequena, e manipule a meio-comprimento. Isto ajuda a manter o torque aplicado sob controle. Evite aquelas enormes chaves de grifo, que insistem em vender para incautos mas são totalmente inadequadas para conexões residenciais, aquilo é para canos metálicos de 2" ou 4".

Apesar de já ter feito muita conexão com sobreaperto, com toneladas de fita teflon, ainda não me aconteceu de quebrar uma conexão (bata na madeira). Acredito que o maior risco de quebra é quando não se respeita a profundidade de rosca. Ou seja, a rosca bateu no fim de curso da conexão e o caboclo continua arrochando com chave. Aí é claro que alguma coisa vai quebrar.

A solução é simples: meça as peças, ou conte o número de fios de rosca, para saber até onde pode ir. Observe o fim de curso da rosca-fêmea (ou o quanto a conexão pode ir além da rosca, para não bater em nenhum componente interno, como no caso de bombas de água). Também observe se a rosca-macho fica "rasa" nos últimos fios, caso em que devem ficar de fora.

Faça ainda um teste de rosqueamento, sem teflon ou quase sem teflon, para ver até onde a peça vai sem esforço, e se a rosca parece terminar de repente (fim de curso) ou fica pesada aos poucos (rosca cônica).

Fazer essa análise também é útil pelo motivo oposto: se rosquear muito leve até o fim, falta material vedante e provavelmente vai vazar. Pode ser necessário tentar 2 ou 3 quantidades de vedante até atingir o objetivo: rosquear todo ou quase todo o comprimento útil da rosca, com aperto suficiente, porém não excessivo.

Mais um fator: qualidade das conexões. Fuja do mico! Era uma vez um nipple, comprado novinho, que não rosqueava mais que a metade, de tão pesado. E por mais fita teflon que se colocasse, também não vedava. Aí me ocorreu de tentar um nipple velho, todo mordido de ferramenta, só que era da Tigre, aí entrou e vedou imediatamente.

Não quer dizer que apenas Tigre presta. A grande maioria dos fabricantes nacionais, e a totalidade dos fabricantes nacionais bem conhecidos, faz um bom trabalho (e dá garantia e suporte se houver problemas). O ponto é que existem peças vagabundas no mercado, e você tem de ficar atento ao comprar.

Sempre haverá pequenas diferenças entre marcas, então é importante testar rosquear a seco comparando com aquele ideal NPT de 4 voltas à mão. Você pode fazer esse teste até na loja, antes de comprar, para conferir se uma peça está mais ou menos no padrão.

Também é importante saber se está lidando com rosca cônica ou reta.

Roscas cônicas ou retas

Em conexões hidráulicas e de gás, existem dois tipos de rosca: cônica padrão NPT, e reta padrão BSP.

A maioria das conexões hidráulicas (tubos, conexões, torneiras, etc.) é cônica padrão NPT. O torque de aperto fica progressivamente maior, tirando qualquer folga antes de chegar no fim de curso. Em tese, a rosca NPT veda por si mesma, e precisa ser apertada até a faixa de interferência. Na prática, precisa de um vedante, que também faz as vezes de lubrificante (para facilitar o aperto) e anti-engripante.

(Como mencionei antes, há peças fora de padrão no mercado, então pode acontecer de uma conexão não dar aperto até o fim de curso, ou dar aperto excessivo logo no começo. O ideal é descartá-la.)

A rosca reta BSP rosqueia facilmente até o fim de curso. A função da rosca é pressionar as conexões contra um elemento vedante, que pode ser uma gaxeta ou um flange de metal macio. Exemplos: pontas-fêmeas de mangueiras, flexíveis, entradas de água da máquina de lavar, uniões roscáveis, conexões de gás e refrigeração.

Não é necessário nem recomendado passar vedante nas roscas BSP, nem adianta arrochar se estiver vazando. Em caso de vazamento, é mais provável que haja problema com a borrachinha lá dentro. O aperto deve ser dado à mão, firmando com 1/8 ou 1/4 de volta de chave. Algumas peças (como adaptadores de mangueira) têm boa "pegada" e são feitas para apertar somente à mão.

O ideal é não misturar roscas BSP e NPT. Por coincidência, roscas 1/2" e 3/4" têm o mesmo passo nos dois padrões, mas em outros diâmetros o passo é diferente, e misturar BSP com NPT destruiria as peças.

Há peças BSP que não têm o local para acamar uma gaxeta. O ideal seria trocar as peças, mas nem sempre é possível, aí temos a missão ingrata de fazer roscas BSP vedar por si mesmas. O jeito é "embuchar" bem a rosca, criando artificialmente o torque de vedação.

Num exemplo pessoal, numa conexão de gás de parede, fui obrigado a usar fio veda-rosca mais 12 voltas de fita veda-rosca amarela por cima. Ao menos eram peças de metal, e os dois lados eram BSP, então não havia tanto risco de algo gastar ou quebrar.

Figura 5: Conexões parede-extensor, extensor-joelho e joelho-regulador são todas BSP, mas sem gaxeta, a muito custo feitas vedar pela combinação de Loctite 55 e muitas voltas de fita teflon de alta densidade.

Noutro exemplo, comprei flexíveis para instalar uma torneira (os flexíveis que vieram com a torneira eram curtos). Tive diversos problemas: um entrava apertado demais (aceitou apenas 3 voltas de fita veda-rosca), mas pelo menos vedou. O outro entrava normal mas não vedou com nenhuma combinação de fio e fita, sempre surgia aquela gotinha miserável depois de algumas horas ou até dias.

Aí constatei que esses flexíveis tinham roscas retas, que está errado para um produto que rosqueia na parede (até aquela vista para esconder a conexão veio junto, então sim, o flexível foi vendido para rosquear na parede).

O correto é trocar por flexíveis NPT. Outra opção para não perder a peça é instalar um niple duplo (macho-macho) na parede, que é o que se faz quando o flexível da torneira (que é BSP do lado fêmea) é comprido o suficiente para conectar direto à parede. Rosquear a fêmea BSP em macho NPT (de 1/2" ou 3/4") não causa problemas nesse caso, pois o torque é pequeno, e quem veda é a borrachinha.

Por último, as roscas BSP suportam um número indefinido de reapertos. Enquanto isso, as roscas NPT foram feitas para instalar uma vez, sendo progressivamente estragadas a cada reaperto. Portanto, em situações onde é prevista a desmontagem periódica, como um aquecedor de água que faz revisão anual, ou um flexível de gás que tem vida útil limitada, é obrigatório usar conexões BSP.

É inevitável trocar uma conexão NPT de vez em quando, mas queremos dimimuir a chance da peça NPT fêmea dentro da parede sofrer desgaste. Para minimizar esse risco, quando houver necessidade de manutenção, procure usar conexões novas e de qualidade. Não faça como seu pai, que fica guardando aquele monte de conexões velhas de 1500 marcas diferentes. Se achar que precisa, tenha em estoque peças novas, inclusive bujões e niples.

Trivia: A rosca reta é conhecida por BSP mas seu nome completo é BSP-P (BSP parallel). Existe a rosca BSP-T (BSP tapered) que é cônica, usada em hidráulica na maior parte do mundo desenvolvido, mas no Brasil adotamos o padrão NPT utilizado nos EUA e Canadá. Existe ainda a rosca métrica DIN, que concorre com BSP-T na Europa, embora a DIN seja mais usada em ambiente industrial. Existe ainda o padrão NPTF (NPT Fuel), com conexão metal-metal que deforma durante o aperto e realmente veda por si mesma, mas apenas na primeira montagem, tornando-se equivalente à NPT comum se reaproveitada.

Conexões soldáveis

As conexões soldáveis de PVC ou CPVC são muito mais confiáveis que peças rosqueadas. Neste caso, seguir estritamente as instruções do fabricante é o que se deve fazer, e sempre dá certo. Se houver vazamento, o mais provável é que a peça veio quebrada.

Note que as instruções são bastante diferentes para PVC e CPVC. Por exemplo, lixar é obrigatório em PVC e proibido em CPVC.

Alguns encanadores usam cola de CPVC em PVC marrom por acreditarem que é "mais forte". Não entendo por que as pessoas fazem isso, arriscando-se a problemas futuros que não serão cobertos por nenhuma garantia. Não se trata de materiais tãão caros afinal de contas. Ou talvez a cor viva da cola CPVC, que lembra uma groselha, seja atraente?

Trivia: na gringa, é comum usar CPVC na instalação inteira, inclusive na água fria.

Trivia 2 para amadores: a cola de CPVC pode ser usada para tubulações de PVC branco para esgoto, para diâmetros de 60mm ou acima.

PVC, PPR, PEX, cobre

No Brasil, PVC e CPVC dominam amplamente o mercado hidráulico, e isso há 40 ou 50 anos. Exalto aqui o pioneirismo da Tigre, empresa aqui da minha terrinha. A dinâmica local criada pela Tigre inspirou muita gente a empreender na mesma área e.g. Krona, Cipla, Amanco (que considero "local" por ter adquirido a Akros), Durin, Viqua, Plasbohn, etc.

Para água quente, a Tigre foi pioneira com o CPVC ("Aquatherm"). Outra opção muito difundida é o PPR, material interessante unido por fusão de verdade (usa-se uma maquininha para esquentar as peças) e que aguenta água ainda mais quente que o CPVC, tanto que é recomendado em instalações grandes tipo hotel. Na minha casa fiquei com o CPVC por ser mais fácil para um amador dar manutenção, e qualquer lojinha no meio do mato vende CPVC.

Nos EUA, o tradicionalismo ainda pesa muito em favor dos canos de cobre, que têm a vantagem adicional de suportar água quente, muito mais importante num país frio. Mas é um sistema caro e difícil de trabalhar. Mesmo por lá as alternativas plásticas estão crescendo a passo de granadeiro. Como dito antes, PVC comum nunca foi muito popular nos EUA, é mais coisa de europeu; e quando usam, é CPVC para água quente e fria. Também há tubos e conexões de ABS, utilizados em sistemas de esgoto pela sua resistência mecânica.

Um sistema que está ganhando popularidade no exterior, e também aqui, é o PEX. É um cano semi-flexível, como uma mangueira dura, barata, fácil de cortar e trabalhar. Curvas abertas podem ser feitas sem conexões. A vedação PEX é puramente mecânica, com anéis de metal crimpados, ou mesmo por simples encaixe. A instalação PEX é simples, rápida, limpa, e pode ser pressurizada imediatamente.

Mesmo no Brasil já é comum usar PEX para gás. Está entrando no mercado um tubo PEX para gás de ar-condicionado split, invadindo o que pode ser o último bastião do cano de cobre. A única grande desvantagem do PEX em construção é não poder ser chumbado na alvenaria; ele deve correr dentro de um cano-guia.

Diâmetros

Infelizmente para os amantes do sistema métrico, as polegadas ainda reinam em conexões roscáveis. Como dito antes, uma tomada de água na parede é quase sempre 1/2". As entradas de água de máquinas de lavar e outros equipamentos tendem a ser de 3/4", assim como mangueiras. Bombas de água tendem a usar 1" no mínimo.

Ao menos os canos usam medidas métricas, como o ubíquo PVC de 25mm. É interessante notar que 25mm é o diâmetro externo, ele equivale a 3/4" em termos de vazão. O cano de 32mm equivale a 1" dos gringos, e assim por diante.

Vedação no passado

Água e gás aparentemente não gostam de viver confinados, é difícil mantê-los dentro de canos, mas aparentemente isto já foi tarefa muito mais difícil e perigosa.

Antes do PVC soldável, só havia PVC branco roscável. E antes dele, tubos de ferro. Imagino o trabalho que dava para fazer, abrindo rosca em cada pedaço de cano, com uma chance de vazamento a cada curva ou emenda. Não admira que as pessoas economizassem nos encanamentos, tentando posicionar todos os "cômodos molhados" adjacentes, fazendo apenas um banheiro, usando instalações aparentes, etc.

A fita teflon é uma invenção relativamente recente. Antes disso, vedava-se roscas com fibra vegetal de cânhamo ou sisal, na forma de barbantes ou fibras soltas, "dopadas" com algum material oleoso ou resinoso. (O Loctite 55 é uma reedição dessa ideia antiga, porém com fibra de nylon e um dope que acredita-se ser à base de Teflon.)

Na presença de água, a fibra natural incha e veda, mas também apodrece, então o "dope" é necessário. Até os anos 1970, era comum usar tinta zarcão, que é um óxido de chumbo (não admira que fosse um bom preservativo). Hoje em dia há dopes atóxicos. A fibra natural ainda é utilizada em tubulações de metal de grande diâmetro.

Uma vantagem da tubulação de cobre é ser toda unida por soldagem (na verdade, brasagem). Um serviço minimamente bem-feito não tem como vazar e suporta pressões enormes, não admira tantas pessoas ainda façam questão de cobre no mundo desenvolvido. Antigamente a solda costumava levar chumbo, hoje não mais, assim como aconteceu com a solda para eletrônica.

Tubos de ferro sem rosca eram (e às vezes ainda são) unidos com estopa de calafetar e chumbo. Sim, de novo, o onipresente chumbo. É um processo punk e perigoso, conforme se pode ver neste vídeo, fora os riscos de contaminação do próprio encanador e da água que passa pelo cano.