Site menu Afinal, CD é pior que LP de vinil?

Afinal, CD é pior que LP de vinil?

Como muitos sabem, existem discussões intermináveis entre os audiófilos comparando a qualidade sonora de LPs e CDs. Embora seja tecnicamente impossível, muita gente jura de pé junto que os LPs soam melhores que os CDs. Tive uma experiência pessoal que talvez explique este mistério.

Enquanto eu ainda trabalhava na Conectiva, um colega de trabalho me pediu para converter um LP do Jacob do Bandolim para MP3. Meio contrariado, aceitei fazer este favor, mas eis uma grande verdade: "cada aborrecimento esconde uma oportunidade". Agradei-me muitíssimo do samba-choro do Jacob, era algo completamente novo para mim.

Enfim, uns tempos depois o tal colega de trabalho achou um CD remasterizado do Jacob e presenteou-me com um exemplar. Mas, por algum motivo, as músicas não soavam tão bem. Soavam plastificadas, artificiais, Eu sempre prefiro ouvir os MP3 obtidos a partir do LP, do que o CD. Aparentemente, o som do LP é mesmo melhor que o digital. Esta seria a conclusão "naive".

Mas será mesmo? Como é que esta qualidade superior do LP conseguiu copiar-se para o MP3, que também é um meio digital e ainda por cima sujeito a perdas?

Ao longo dos anos, notei que esta sensação de "LP melhor que CD" não acontece quando ouço determinada música a partir do CD pela primeira vez. Tendo ouvido a música do CD e me acostumado com ela, a versão LP parece ser o que tecnicamente se espera dela: comprimida e cheia de ruídos.

Assim, minha conclusão a respeito da dispura CD × LP é o seguinte: o LP adiciona ruídos e "cores" à música, que tecnicamente são defeitos, porém esses defeitos entram no "bojo" das emoções que a música desperta no ouvinte.

Uma vez que o ouvinte se acostumou com a "mensagem" da música no LP, a mesma música no CD vai parecer pasteurizada, fria. No entanto, este mesmo ouvinte pode acostumar-se com a versão CD de outra música qualquer, internalizar as emoções dela, e neste caso ele vai estranhar a versão LP, por distorcida.

Muitas vezes, ouvimos uma música não porque gostamos especialmente dela, mas porque ela nos faz lembrar de algo agradável. Mas apenas uma versão específica da música destranca o cofre das lembranças: a que foi ouvida à época, e os eventuais ruídos e defeitos tornam-se parte desta associação áudio-memória.

Neste ponto, vale lembrar as diferenças entre as diversas "escolas" de audiofilia que existem:

Como é muito fácil produzir um amplificador de alta qualidade hoje em dia, a briga entre as escolas costuma ser mais ferrenha na fabricação de alto-falantes. Porque não existe alto-falante realmente bom, existem alto-falantes menos ruins. Um alto-falante é sempre um dispositivo ineficiente, com resposta em freqüência cheia de picos e vales, e que sempre introduz distorções no som final.

E é aqui que entra a questão da "emoção" do som. Inúmeros materiais de construção de alto-falantes proporcionam respostas teoricamente melhores que o papelão, porém foram quase todos reprovados pelo ouvido dos usuários. E é por isso que continuamos a ver tantos alto-falantes de papel por aí.

Ainda sobre alto-falantes, a eficiência energética é inimiga da qualidade de som. Aquelas cornetas que usam para tocar música na praça (e que alguns boys põem no porta-malas do carro) são muito eficientes por watt, mas emitem um som terrível, como todo mundo sabe. No outro extremo estão os bons alto-falantes para automóveis e as caixinhas de home-theater que precisam ser pequenas — ambos sacrificam totalmente a eficiência para obter alguma qualidade.

De longe, a escola de audiofilia dominante é a americana, inclusive na fabricação de alto-falantes, mas alguns aparelhos mostram uma influência européia/japonesa com resultados muito interessantes.

Um exemplo é o amplificador valvulado, muito apreciado por audiófilos. Embora tal amplificador distorça mais que o equivalente a transistor, ele tem um som "mais agradável", Outro motivo é que a válvula não satura bruscamente como o transistor; a distorção de saturação da válvula acaba sendo indiscutivelmente mais agradável.

Outro exemplo, este mais empírico e particular, é a sonoridade "gostosa" que alguns aparelhos de som parecem apresentar. Pessoalmente, possuo um minisystem da Sony e um CS-5 da Gradiente. Ambos possuem um som extremamente agradável a meus ouvidos, embora não sejam aparelhos high-end, e certamente não possuem resposta plana etc.. Provavelmente isto tem a ver com a cuidadosa escolha dos alto-falantes de papel que os dois aparelhos usam.

Provavelmente todo mundo já teve experiências semelhantes — gostar ou desgostar de um aparelho de som sem saber exatamente o porquê.