A câmera digital D3200 (e muitas outras câmeras DSLR Nikon do passado e do presente) tem algumas configurações muito úteis, mas que são um tanto confusas, e haverá conseqüências desagradáveis se você mudá-las e esquecer de resetá-las mais tarde.
É claro, ISO é sempre automático no modo "Auto" e nos modos de cena. Mas a D3200 também tem um modo Auto ISO para ser utilizado com os modos MASP, também chamados de modos "manuais" ou "profissionais".
O Auto ISO permite a você configurar o ISO em termos diferentes do valor absoluto. Por exemplo, você pode especificar que a menor velocidade de obturador é 1/60s e o maior ISO aceitável é 800. A câmera tentará usar o menor ISO que se adeque a estes dois limites.
Então você pode tirar fotos sem tripé, digamos no modo A (prioridade de abertura), bastando escolher a abertura, enquanto o obturador e o ISO são ambos selecionados automaticamente para obter a melhor foto. Sem este recurso, você teria de ficar de olho na velocidade do obturador, e subir o ISO você mesmo se o obturador estivesse muito lento.
Mesmo com o Auto ISO ligado (ON), você ainda pode selecionar seu ISO-base manualmente, seja pelo menu, seja usando o botão Fn. A câmera tenta primeiro usar o ISO-base, mas aumenta o ISO se necessário.
Isto é importante, pois se você esquecer a configuração manual do ISO em 800, todas as fotos serão tiradas com ISO 800 no mínimo, mesmo que ISO 100 seja suficiente. Muito provavelmente você vai querer manter o ISO-base em 100 quando utilizar Auto ISO, desta forma a câmera sempre vai usar o menor ISO possível, obtendo assim a melhor qualidade de foto.
Configurar o ISO manualmente pode ainda ser útil neste modo: quando o Auto ISO precisa trabalhar, o símbolo ISO-A pisca na tela de informação, e ISO AUTO pisca no visor ótico. Assim você sabe que o ISO foi aumentado acima do valor-base. Se você tem um bom palpite do ISO ideal para a iluminação corrente, e quer ser avisado quando este ISO estimado está muito baixo, basta configurá-lo manualmente.
A D3200 pode selecionar a velocidade mínima de obturador automaticamente, baseada na lente (o item Auto no topo da lista de velocidades mínimas). Mas este recurso, do jeito que está, é quase inútil porque ele seleciona uma velocidade "média" que não pode ser regulada. Por exemplo, eu preciso o dobro da velocidade padrão, porque minhas mãos tremem bastante.
Além disso a D3200 não muda a velocidade para lentes zoom de acordo com a distância focal, nem leva em consideração se o VR (redução de vibração) está ligado ou não. Para zooms como o 18-140mm DX VR, a velocidade mínima aceitável é fixada em 1/60s, mas deveria variar de 1/4s até 1/300s dependendo do estado da lente. (Pelo menos este problema você não vai enfrentar quando usar lentes fixas.)
Então, na D3200, fique com um valor absoluto para a velocidade mínima, que seja apropriado para a ampliação máxima do zoom e o modo VR que você normalmente usa. Faça testes para determinar a velocidade necessária para evitar que o tremor afete a foto (cada mão treme diferente e interage de forma diferente com o sistema VR).
Finalmente, você precisa lembrar de mudar a velocidade mínima de obturador quando mudar a lente.
Se o Auto ISO não puder achar uma exposição boa dentro dos parâmetros, ele respeita o ISO máximo que você determinou, mas apelará para obturadores mais lentos. Ele não bloqueia o disparo. Então, a velocidade do obturador ainda tem de ser checada em situações-limite, como iluminação extremamente fraca, ou ISO máximo bastante baixo.
Uma grande pegadinha: em Auto ISO, o flash pode usar valores ISO muito altos, até o limite máximo configurado. Esta é a característica mais incômoda e contra-intuitiva. Se você esquecer o Auto ISO configurado no limite máximo de 6400, e usar o flash, provavelmente as fotos usarão ISO entre 2000 e 3200, apresentando mais ruído e menos qualidade do que seria esperado de uma foto com flash.
O senso comum nos faz assumir que o menor ISO possível seria utilizado com o flash. Mas parece que a Nikon mudou o algoritmo de programação do flash para economizar energia, bem como capturar mais da iluminação existente. Os resultados não são muito bons. ISO 6400 e acima são ferramentas muito úteis para fotos sem tripé no escuro, mas a qualidade das fotos beira o inaceitável. Não faz sentido nenhum usar sensibilidades tão altas com flash.
Portanto, se for usar flash, principalmente se for o flash embutido, desligue o Auto ISO. (Com flash externo, o ISO não sobe tanto, mas ainda sobe, de ISO 100 para 400 ou algo assim.)
O botão 'Live View' transforma sua câmera SLR numa mirrorless meio desajeitada. Até o algoritmo de foco muda para a temida e lenta "detecção de contraste". Na D3200, você precisa entrar no modo Live View antes de gravar um vídeo.
A pegadinha do modo Live View da D3200 (que afeta todas as câmeras Nikon 'abaixo' da D800) é que a abertura não pode ser mudada enquanto se está no modo Live View e enquanto se grava um vídeo.
Parece que, na D3200 e na maioria das câmeras Nikon, o mecanismo que levanta o espelho está acoplado com o acionamento do diafragma, e portanto só podem movimentar-se juntos.
Se você estiver num dos modos automáticos/de cena, e for para Live View, a abertura é automaticamente mudada para Deus-sabe-qual-valor. Suponho que o modo Auto seleciona a abertura mais nítida para a lente em uso. Se você estiver num modo manual (MASP), pelo menos você saberá qual é a abertura selecionada ao ativar o Live View.
Um efeito colateral interessante do Live View é prever a profundidade de campo de uma dada abertura. Modelos básicos como a D3200 não tem um modo dedicado de previsão de profundidade de campo para o visor ótico, mas você ganha este recurso de graça no Live View. Pode-se usar o zoom no Live View para conferir o foco em mais detalhe.
A abertura inflexível durante o Live View não é tão importante em fotografia, porque a câmera vai liberar o espelho e levantá-lo novamente ao tirar uma foto, e a câmera aproveita essa oportunidade para efetivar a abertura selecionada.
Por outro lado, a abertura travada faz diferença em filmagem, porque um vídeo só pode ser iniciado dentro do modo Live View, e o espelho nunca é baixado, nem quando o vídeo começa. A abertura permanece a mesma, do ponto que você entrou no Live View até o fim do vídeo, mesmo que você tenha escolhido outra abertura no interim.
Este ponto é relacionado ao anterior, já que o Live View e a gravação de vídeo têm uma relação muito próxima. A Nikon D3200 permite a você controlar o obturador e o ISO manualmente enquanto grava um vídeo.
Em certo sentido, o controle da abertura é sempre manual para vídeo, já que a abertura configurada ao entrar no Live View é a que vai ser utilizada durante o vídeo. É claro, se o modo da câmera estiver em AUTO, você não saberá qual a abertura escolhida no momento que entrar em Live View; mas o ato de gravar um vídeo não mudará a abertura.
As configurações manuais de vídeo precisam ser habilitadas dentro de um menu (Figuras 7, 8 and 9). Além disso, elas são efetivas apenas quando o disco de modo estiver em M (completamente Manual). É algo como uma trava dupla.
Em qualquer outro modo de operação (incluindo P, A e S) a câmera ainda controla automaticamente o ISO e o obturador ao gravar vídeos, e o Auto ISO não tem efeito para vídeos (você não pode configurar um ISO máximo para filmes, por exemplo).
A gravação completamente automática de vídeo funciona bem, mas o controle manual ainda pode ser muito útil.
Por exemplo, as câmeras reagem rápido demais a mudanças de iluminação. Imagine uma cena noturna, e em determinado momento passa um carro com luz alta. A câmera vai diminuir a exposição, e aumentá-la de novo quando o carro tiver passado. No modo manual, você pode manter a exposição constante, deixando os faróis do carro "queimarem" um pouco a cena, exatamente como fazem os filmes de cinema.
O modo manual é também a única forma de evitar sensibilidades ISO muito altas em filmes, pelo menos na D3200. Um ISO relativamente baixo, nunca acima de 1600, evita aqueles vídeos noturnos ruidosos, parecendo uma TV fora de sintonia, típicos de filmadoras e câmeras baratas.
Configurar o obturador manualmente pode ser útil para evitar o "flicker" ou batimento com lâmpadas que piscam em alta freqüência, muito embora o controle automático de "flicker" da D3200 tome conta disto no modo automático. Usar obturador mais lento também é o antídoto para sensibilidade ISO mais baixa, se a cena é noturna.
Para vídeos, a velocidade mínima do obturador é 1/25s a 1/60s, dependendo do sistema de vídeo (PAL: 25/50fps ou NTSC: 30/60fps) e das configurações de vídeo. A D3200 grava Full HD em 25/30fps, e HD em 50/60fps.
As câmeras da série D3x00 dependem da eletrônica da lente para calcular a exposição. Mas as configurações manuais de vídeo abrem caminho para um "truque sujo": calcular a exposição usando lentes antigas ou sem os contatos eletrônicos.
Toda lente Nikon com auto-foco tem os contatos eletrônicos, mas há muitas lentes de gerações anteriores (pre-AI, AI, AI-s) à venda no eBay. Por diversas razões técnicas e não-técnicas, elas são muito populares entre produtores de vídeo. Também existem lentes novas na caixa desprovidas de eletrônica, como a ótima olho-de-peixe Rokinon 8mm.
Para medir a exposição, configure a abertura usando o anel da própria lente, gire o disco para o modo M, e vá para o modo Live View. Lá você poderá configurar ISO e obturador (dentro de certos limites) até a imagem aparecer boa no display.
E o bônus é que, no caso de lentes manuais, você pode alterar a abertura durante o modo Live View e mesmo durante a gravação de vídeo! É um dos motivos pelos quais os videófilos gostam dessas lentes. Em vídeo profissional, o controle manual de foco e abertura ainda é a regra.
O Live View uma medida primitiva de exposição, mas é muito melhor do que nada, e mais barato que comprar um fotômetro separado. No Live View, velocidade mínima de obturador varia entre 1/25s a 1/60s, dependendo das configurações de vídeo. O menor ISO é 200. Porém, vez determinada a exposição, você pode usar combinações diferentes de ISO e velocidade, fora desses limites (supondo que você queira tirar foto em vez de fazer filme).