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Resenha: caixa de som Edifier R1700BT

Em breve vou ter um escritório com móveis sob medida, pela primeira vez na vida! Na fase de projeto, tamanho e disposição de alguns aparelhos como monitor de vídeo e caixas de áudio precisam ser considerados. O som até então (um HT 5.1 emprestado do meu pai) era bem razoável, mas não era o meu ideal e não fazia sentido tentar encaixá-lo no novo ambiente.

Assim, como parte do "custo incorrido" do escritório novo, adquiri um belo som novo: o Edifier R1700BT.

A Edifier é mais conhecida como fabricante de monitores de áudio: caixas acústicas que primam pela neutralidade, ideais portanto para músicos, produtores e engenheiros de som. Os monitores mais baratos têm preço comparável às caixas de som para PC mais caras, o que foi firmando a Edifier num segundo mercado: som para PC, para quem tem uma daquelas horríveis caixinhas de som USB e quer dar o "próximo passo".

A primeira vez que ouvi falar da marca faz uns 4 anos, mencionada por meu pai (sempre ele, também apaixonado por áudio) no contexto da nossa eterna procura por caixinhas de som decentes. O assunto morreu por uns tempos. Mais recentemente, a Edifier lançou uma ofensiva de marketing no Brasil entre músicos-YouTubers.

Vai pegar mal pra mim confessar que relembrei da marca num vídeo do Nando Moura, mas como ele é músico de profissão (os vídeos sobre música, como este, são bons) a recomendação dele tem peso. O pior é que esqueci de usar o bônus de desconto na hora de comprar!

O principal motivo de ter optado pelo modelo R1700BT foi a entrada Bluetooth. Apesar do Bluetooth roubar qualidade, a conveniência de um cabo a menos é irresistível. Não fosse por isso, talvez tivesse comprado o monitor R1000, mais barato. Mas também há opções bem mais caras, com entrada digital, 3 vias, subwoofer, amplificador valvulado...

Características subjetivas

O som é bom e não adiciona "coloração" própria. É o que se espera de um monitor de áudio: ficar fora do caminho. Isto torna até difícil falar em termos positivos. É mais fácil citar as características negativas que ele não tem:

1) aqueles tweeters irritantes, extremamente direcionais e muito mais fortes que os demais alto-falantes, soando "tssss tssss tssss". Nos primeiros 10 segundos parece um som ultra-detalhado, mas cansa bem rápido.

2) aquele "buraco" nos médio-graves (80-500Hz) muito comum em home theaters com satélites pequenos. O subwoofer pode reproduzir essa faixa, mas aumentar o ganho dele também aumenta os graves mais profundos, que vão mais longe e incomodam os vizinhos. Além disso, o sub é monofônico e essa faixa já pede reprodução stereo. Por último, reproduzir muitas oitavas através de um mesmo alto-falante prejudica a qualidade sonora.

Quase ninguém dá bola para esse defeito, o povo só se importa com sub-graves e agudos, então não há incentivo para corrigir. Desconfio que grande parte do hype do "som valvulado" seja na verdade a reprodução correta dos médio-graves, com moderação nos sub-graves e agudos.

3) Picos e vales medonhos, que exigem equalização extrema. Toda caixa e todo ambiente pedem alguma equalização, mas valores muito altos (tipo 10dB) são sintomas ruins. E a própria equalização prejudica o som de outras formas, já que todo filtro (mesmo digital) introduz distorções.

O que você pode sentir falta na R1700BT é de graves profundos. Num mundo perfeito, haveria uma saída de subwoofer visando um upgrade opcional para 2.1.

A qualidade de som via Bluetooth é perfeitamente aceitável, mas sim, dá pra notar uma ligeira perda de qualidade e uma "coloração" no som, se comparar com a mesma fonte ligada via cabo. Eu notei, minha esposa notou, então está lá, mas mesmo assim prefiro viver com um cabo a menos. A R1700BT não oferece o codec AptX — o que aliás não faz diferença se você usa Mac ou iPhone pois a Apple também não implementa esse codec.

Um outro "problema", poder-se-ia dizer que é um "problema bom", de plugar uma caixa de som dessas no seu PC, é que ela vai denunciar a má qualidade de outros componentes de áudio, como por exemplo aquela sua coleção de MP3 de 128kbps.

Apresentação

O produto veio bem embalado, com "pilhas incluídas": cabo RCA-RCA, cabo RCA-3.5mm, controle remoto com pilha dentro. Não há fonte externa e é bivolt, basta ligar na tomada e usar. Os cabos de áudio são realmente um brinde, iguaizinhos ao que se encontra em qualquer supermercado: meio curtos e não são banhados a ouro.

As caixas são muito bonitas, embora pareçam menores ao vivo do que nas fotos. Podem ficar em cima de uma mesa de escritório sem roubar muito espaço. São feitas de MDF e bastante pesadas (3kg cada) o que ajuda na qualidade de som. A antítese daquelas caixinhas leves de plástico. É uma outra assinatura da marca: fazer caixinhas com aparência retrô/clássica.

A caixa direita contém o circuito, a caixa esquerda é passiva. O cabo de conexão entre as duas usa um conector proprietário de 4 pinos. Isso tem um bom motivo (amplificadores separados por alto-falante) e o cabo tem bons três metros, mas pode ser um empecilho se uma caixa tiver de ser instalada muito distante da outra.

Os controles estão num discreto nicho lateral da caixa direita: volume, graves e agudos. O controle remoto controla apenas o volume e a fonte de som (analógica ou Bluetooth). Há uma chave liga/desliga de verdade na traseira. Só o LED azul perto dos potenciômetros destoou (queria saber por que os chineses gostam tanto de botar LEDs azuis nas coisas).

Características técnicas

A potência declarada é 66W RMS, o suficiente para encher uma sala com folga, mas não o suficiente para animar uma festa. Seguindo a linha de todos os aparelhos de som modernos, os amplificadores são os eficientes "classe D" e não há dissipadores de calor externos. A "classe D" pode fazer alguns audiófilos vomitarem, mas não pode mais ser considerada um demérito hoje em dia. (Para agradar audiófilos teimosos, a Edifier oferece o modelo A4, pré-amplificado com válvulas e amplificador de potência LM1875, que é classe AB.)

A freqüência de corte dos graves é 60Hz, compatível com o tamanho da caixa e os alto-falantes de 4". Sinais mais graves são filtrados fora: o alto-falante mal se mexe com um sinal de 30Hz. Além do Bluetooth embutido, o outro grande "tchan" do modelo 1700 é a amplificação separada por alto-falante (woofer e tweeter). Isso tem muitas vantagens, como bem sabe a galera do som automotivo.

Há duas entradas de som analógicas: PC e line-in. A entrada PC é menos sensível, porque a saída de som de um PC ou celular é a mesma do fone de ouvido.

A caixa tem um defeito: um reforço nos graves em torno de 90Hz, provavelmente para agradar aquela galera que gosta de fazer cristais tremerem. Não combina muito com a proposta de um monitor. Minha solução caseira foi enfiar uma bola de papel no duto da caixa. Isto transforma a caixa de dutada em selada. Os graves perdem um pouco de força, mas o "boom" em 90Hz é bastante atenuado, e pode-se compensar a perda aumentando um pouco os graves no equalizador do computador ou celular.

Veredito

Não vou arriscar um veredito, porque áudio é extremamente subjetivo. O que é perfeito para um, não presta para outro. Comprar uma caixa de som pela Internet sem ouvi-la primeiro, é como comprar sapatos pela Internet, só que muito mais arriscado.

Se você procura um som diferente do típico produto de consumo de massa (home theaters, mini-systems bregas cheios de luzinhas, caixas de som para PC feitas de plástico) a linha Edifier é uma boa primeira opção a considerar.

Preço

É certo que alguém vai levantar a objeção do preço dos produtos Edifier. Na verdade, produtos de áudio de todo o gênero (alto-falantes, microfones, instrumentos musicais, etc.) sobem de preço bem rápido.

Por outro lado, "caro" e "barato" são quase sempre relativos. Por diversos motivos, alguns produtos doem mais no bolso que outros. Por exemplo, gastar dois mil Temers numa TV enorme é perfeitamente normal e socialmente aceito, o cunhado e a sogra vão até dar tapinhas nas suas costas. Mas gastar o mesmo dinheiro num aparelho de som é considerado bizarro. Se bobear, vão dizer que há gente passando fome no mundo e você devia estar dizimando em vez de esbanjar.

O outro problema do áudio é que ele exige espaço. Caixas acústicas grandes são melhores, uma sala fechada é importante para apreciar música (melhor ainda se tiver forração), quem mora em apartamento não pode abusar do volume, etc. Isso tudo desencoraja grandes investimentos em áudio, ou pelo outro lado encarece ainda mais a obtenção de um som realmente bom.

Um investimento em áudio decente geralmente dura por muito tempo. Em 1993, comprei um mini-system da Sony por uns 900 dólares — levei meses para juntar essa grana! Novecentas Ivankas ainda compram bastante coisa hoje em dia (ninguém seria louco de gastar tudo isso num som, certo?) e compravam muito mais em 1993. Mas o aparelho me serviu até 2014. Antes disso, em 1989, tinha gasto 2 salarios mínimos num Gradiente CS-5, que meu pai ainda usa (2017). Módulos de som automotivo, vendi todos no Mercado Livre, praticamente pelo mesmo preço de compra.

Lero-lero pessoal

Para mim, áudio é muito mais importante que vídeo. Não gosto muito de ver TV e não entendo a tara dos colegas engenheiros de software por monitores de vídeo de última geração.

Isso tem um motivo prosaico: eu ouço muito bem, e enxergo muito mal. Outro motivo é ter conhecido a "cultura Hi-Fi". Nos anos 1970, até meados dos anos 80, as pessoas colocavam um disco para tocar, e ficavam paradas ouvindo! No máximo, liam alguma coisa durante a audição. Mesmo quem não era rico costumava ter uma sala reservada ao aparelho de som, com poltrona, sofá, etc.

Já ouvia falar desde pequeno do bom som que os saudosos amplificadores valvulados produziam, então não foi uma surpresa completa quando os audiófilos começaram a dizer o mesmo nos anos 2000. Meu pai fabricava suas próprias caixas acústicas e também fabricou alguns aparelhos de som, baseados em kits ou em artigos de revistas de eletrônica. Por meu turno, calculei um subwoofer automotivo (mas mandei o marceneiro fazer) em 1999, felizmente para meu bolso a febre do som automotivo durou pouco para mim.

Aliás, som automotivo é a "última trincheira" do Hi-Fi, é onde ainda corre a grana alta que financia pesquisa e desenvolvimento. Pelo menos em 1999, bons módulos amplificadores eram construídos com quase 100% de componentes discretos, para que fossem consertáveis e até modificáveis. Na época, a grande novidade era a transição do transistor bipolar para MOSFET. Hoje em dia, os módulos Classe D devem estar dominando.

O resto do mercado secou conforme o foco do consumidor mudou para vídeo, a começar pelos videocassetes, ainda nos anos 80. No Brasil, a Gradiente foi a grande vítima deste processo. Mas não é algo inédito: nos EUA, boa parte da indústria de som morreu na transição da válvula para o transistor.

Audiófilos falam muita bobagem a respeito de Hi-Fi. Na verdade é uma mistura tripartite de bobagem pura; bobagem induzida por jabá; e informação correta mas de n-ésima mão, distorcida conforme é repetida às cegas. Para obter informações de primeira mão, recomendo o site Nutshell Hi-Fi e em particular a página de Lynn Olson. O conteúdo já está na Internet há muito tempo; achei-o pela primeira vez ainda no milênio passado, quando estava ligado em som automotivo.

Não concordo com tudo que ele escreve, mas no mínimo absoluto é uma leitura divertida, pelo tom assertivo e bonachão. Lendo os textos, você descobre, por exemplo, que

1) Amplificadores valvulados são melhores porque válvulas são mais lineares que semicondutores, não (apenas) porque geram "distorção eufônica". O tal do "som valvulado" que os guitarristas valorizam é distorção e pode ser simulado digitalmente.

(Nenhuma vantagem que um guitarrista possa levantar a favor do amplificador valvulado vale automaticamente para reprodução de áudio, porque o amplificador da guitarra faz parte do instrumento musical. O "som de guitarra" que se ouve numa música é quase sempre captado por um microfone na frente do amplificador.)

2) Um cabo de força pode influir na qualidade de som, quando ele funciona como filtro e suprime ruídos produzidos pela própria fonte do amplificador.

3) Componentes passivos como capacitores, que todo mundo acha que são unicamente definidos pelo seu valor, podem introduzir distorções conforme o tipo (os eletrolíticos são os piores) e qualidade de construção. Cabos, transformadores, até trilhas de circuito expostas ao oxigênio criam capacitância. Óxido de cobre justaposto ao cobre metálico forma um diodo.

4) O grande ponto fraco de qualquer som é o alto-falante, muito embora ele tenha melhorado absurdamente nas últimas décadas. Até meados dos anos 1970, calculava-se uma caixa acústica na base da tentativa e erro! A má qualidade dos alto-falantes antigos, e sua melhoria coincidente com a era do transistor, explicam boa parte da má fama da válvula.

Verdade? Mentira? Se non è vero è ben trovato.