Você tem algum flash antigo em casa, do tempo das máquinas de filme?
Algum parente ou amigo descobriu que você curte fotografia, e te deu um flash velho?
CUIDADO!!!!!!!!!
Flashes antigos costumam utilizar alta voltagem nos contatos do pé do flash. A tensão é suficiente para fritar sua câmera digital, principalmente se tiver polaridade negativa (explicarei o que isso significa mais adiante).
Internamente, todo flash trabalha com alta voltagem. O circuito do flash é basicamente um elevador de tensão que carrega um capacitor. Aquele apito agudo que algumas pessoas podem ouvir é o circuito trabalhando. Na hora do flash, o capacitor descarrega numa lâmpada de xenônio. A quantidade total de energia contida no capacitor não é muita, mas ela é transformada em luz instantaneamente.
Por exemplo, um flash muito vendido no Brasil em priscas eras, o National PE-200. É um bom flash, você encontra para vender no mundo todo em sites tipo Mercado Livre e eBay. A tensão entre os contatos pode passar de 220V. Dá um belo choque se você meter o dedo.
O pé padrão do flash para fixação na câmera, conhecido como "hot shoe", tem pelo menos dois contatos: um central (positivo) e o próprio trilho metálico de fixação (negativo). O flash dispara quando os contatos são eletricamente conectados, dentro da câmera.
No tempo das máquinas analógicas, a voltagem empregada não importava muito, porque era uma chave mecânica dentro da câmera quem fechava o circuito. Permitir que alta tensão fluísse pelos contatos simplificava o desenho interno do flash.
Mas as máquinas digitais não têm chave mecânica; a "chave" é um circuito eletrônico, alérgico a alta voltagem. Nenhum fabricante recomenda voltagens de disparo acima de 6 volts. Algumas DSLR Nikon esclarecem, no manual de instruções, que tensões até 250V são suportadas, desde que positivas, ou seja, o pólo positivo seja o contato do meio.
Não vou citar modelos; se você realmente quer usar um flash antigo, deve consultar o manual da sua câmera e também medir a voltagem entre os contatos do seu flash.
Dos três flashes que já ganhei, todos alcançavam voltagens bem altas. Um deles passava de 250V, e outro tinha polaridade invertida (positivo no trilho, negativo no contato central), além de passar de 200V. Ou seja, desses 3 flashes, 2 poderiam ter torrado minha câmera se eu tivesse feito uso deles. Joguei logo esses dois no lixo para garantir que nenhuma outra pessoa cometa esse erro.
Mesmo que o flash (como o National PE-200) esteja no limite de tensão e na polaridade correta, ainda assim não acho uma boa ideia usá-lo. A alta tensão pode não queimar a câmera imediatamente, mas pode reduzir a vida útil.
Se, dito tudo isso, você ainda quer usar um flash do tempo da brilhantina, há soluções que permitem usá-lo com segurança.
Uma alternativa é comprar um "safe-sync hot shoe", um pezinho com circuito eletrônico próprio que fica entre o flash e a câmera. Custa US$ 50 — quase tão caro quanto um flash novo que poderia ser usado sem preocupação.
A segunda alternativa é um disparador remoto sem fio, seja por luz ou por rádio. Este tipo se encontra barato no DealExtreme. (Disparador por cabo PC não serve, porque a tensão do flash volta pelo cabo.) É possível que o disparador também tenha seu próprio limite de voltagem, mas na pior das hipóteses vai queimar o receptor do disparador, não sua câmera. De quebra, o disparador remoto permite posicionar o flash em qualquer lugar.
O mais fácil mesmo é comprar um flash novo. Um flash manual como o CY-20 custa entre US$ 9 e US$ 15, e é melhor que um flash antigo equivalente em todos os aspectos. Gasta menos pilha, é mais leve, pode ser apontado para qualquer ângulo na vertical. Com um número-guia de 20, ele é três ou quatro vezes mais forte que o flash embutido da câmera.
Estas opções estão disponíveis se sua câmera adota o hotshoe padrão. A maioria adota. Até onde sei, apenas a Sony usa um padrão proprietário, originalmente desenvolvido pela Minolta.
Para o caso de você não saber o que é número-guia (conhecido como GN na literatura em inglês), trata-se de uma medida relativa de luminosidade. Um flash com GN 20 ilumina um objeto a 5m com abertura de lente f/4, 10m com f/2, 20m com f/1, 3m com f/7.1, e assim por diante.
O número-guia tem esta interação simples entre distância e abertura porque a abertura é uma medida quadrática (por exemplo, f/4 admite apenas 25% da luz de f/2). Por outro lado, a luz do flash também segue a lei dos quadrados das distâncias, então um objeto a 10m recebe apenas 25% da iluminação de um objeto a 5m. Como as duas variáveis são quadráticas, a relação entre elas é linear. Assim, um flash que ilumina bem uma cena a 5m com abertura f/4, ilumina igualmente bem uma cena a 10m com abertura f/2 (a perda de 75% de iluminação é compensada por um acréscimo de 300% na abertura).
O número-guia é relativo a uma sensibilidade ISO, então é costume especificar "GN 20 @ ISO 100". Quando o ISO é omitido, é razoavelmente seguro assumir ISO 100. Mas o ISO não tem uma relação linear com o número-guia. É preciso mudar dois pontos no ISO para dobrar o GN, ou reduzi-lo à metade. Exemplo: um flash GN 20 @ ISO 100 equivale a GN 40 @ ISO 400.
Apenas a abertura e o ISO são levados em conta no número-guia. O obturador pode ser importante para admitir luz ambiente além do flash, mas a iluminação do flash em si é rápida demais para ser controlada pelo obturador.
Flashes mais elaborados permitem controlar a luminosidade. Os pontos costumam ser expressos como frações, começando pela força máxima: 1/1, 1/2, 1/4, 1/8... Assim como o ISO, é preciso diminuir dois pontos na força do flash para reduzir seu GN à metade.
O flash manual é barato e compatível com quase todas as câmeras e acessórios do mercado. Mas é complicado usá-lo, principalmente para quem não é fotógrafo profissional e não está acostumado a pensar continuamente em termos de abertura, distância, ISO, etc. Um flash controlável é um complicador adicional.
Os flashes manuais continuam à venda, e parecem vender bem, então presumo que os profissionais façam bom uso deles, mas eu sou amador, e achei o flash manual pouco prático. Uma foto posada, feita e refeita com calma, ainda é viável; mas há outras situações onde o fardo de controlar o flash fica pesado:
Como estamos no século XXI, é interessante economizar um pouco e comprar um flash compatível com o sistema TTL da sua câmera.
TTL significa "through the lens" (através da lente). Em resumo, o TTL dispara o flash duas vezes, em rápida sucessão (quase não dá pra notar). O primeiro disparo mede a exposição, o segundo disparo é para valer. Como a exposição é medida, não estimada, ela funciona perfeitamente em qualquer das situações mencionadas. O TTL também suporta disparo de múltiplos flashes simultâneos.
O TTL funciona mesmo com a câmera em modo manual. A exposição da luz natural está sob controle total do fotógrafo, e ainda assim o flash é corretamente exposto (e.g. uma foto noturna onde um objeto próximo deva ser iluminado pelo flash). O negócio realmente funciona e é difícil viver sem ele depois de experimentá-lo.
O flash embutido em uma câmera boa é TTL, e por conta disso ele atinge resultados surpreendentemente bons na hora de usar flash como enchimento. Eu faço questão de um flash externo porque o flash interno gasta muita bateria, e pelo menos na minha câmera ele só pode apontar diretamente para frente. E nem preciso dizer que o flash embutido é fraco.
Na hora de comprar um flash externo, o monstrinho da incompatibilidade ataca novamente: cada fabricante implementa o TTL de um jeito diferente, e usa jargões diferentes.
Por exemplo, os flashes da Nikon são chamados "Speedlight", mas existem flashes Speedlight de outros fabricantes — alguns implementam TTL, outros são manuais, então é preciso ficar muito atento na hora de comprar. A comunicação entre a câmera e o flash é levada a cabo através de contatos adicionais no pé do flash, e naturalmente a posição destes contatos extras é diferente na Nikon, na Canon, etc.
Numa primeira aproximação, a melhor aposta é adquirir flashes TTL do mesmo fabricante da câmera. O problema é que são caros. Há algumas marcas alternativas, com variáveis graus de respeitabilidade; a Yongnuo é a mais bem estabelecida no momento. Lembrando novamente que essas marcas também oferecem versões manuais desses flashes, fisicamente são idênticos aos TTL, então é preciso conferir.
Pessoalmente, tenho o flash YongNuo 565EX-II, que é a versão Nikon TTL. Não foi baratinho, mas também não foi realmente caro. Este flash pode ser apontado para quase todas as direções, possui uma lente motorizada para ajustar o feixe automaticamente de acordo com o zoom (por conta disso ele chega a ter um GN de 58 para zoom em 105mm), difusores embutidos, e lâmpada de auxílio de foco, que também ajuda a economizar a bateria da câmera.
Se você preferir, há flashes Nikon legítimos usados à venda por um preço bem razoável. Os modelos SB-300 e SB-400 são pequenos e bonitos. Já que tive de comprar um flash, preferi ficar com um modelo mais potente.