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Ajustando uma caneta-tinteiro

A grande maioria das canetas-tinteiro baratas (menos de US$ 10) não vem perfeita de fábrica. Algumas nem mesmo escrevem. Umas e outras precisam de uma rotina de ajustes para funcionar bem, e ao mesmo tempo são uma excelente "escola" para aprender os meandros deste instrumento de escrita.

Canetas menos baratas costumam vir num estado funcional, que pode variar de perfeito a meramente aceitável, e também podem precisar de algum ajuste para entregar 100% do seu potencial. Elas também podem desajustar-se com o uso: um excesso de pressão ao escrever, ou um pequeno tombo, etc. pode provocar a necessidade de conserto.

(Canetas realmente caras são ajustadas manualmente como parte do processo de fabricação, e seu preço embute a garantia de poder mandar a caneta de volta a qualquer tempo, se ela deixar de corresponder às expectativas ou mesmo se sofrer algum dano típico de uso. Obviamente, deve-se aproveitar este tipo de garantia, se ela existe.)

Então, mesmo que você pretenda ter apenas canetas de qualidade em sua coleção, sempre é uma boa ideia aprender a ajustá-las, pois vai utilizar este conhecimento mais cedo ou mais tarde.

Como funciona uma caneta-tinteiro

Para aprender a consertar e ajustar uma caneta, primeiro você precisa saber como ela funciona. Segue um esquema que deixa de lado por um momento a aparência real dos componentes.

Figura 1: Esquema abstrato de uma caneta-tinteiro

O reservatório de tinta é selado; toda a comunicação com o mundo exterior passa através do alimentador. Por outro lado, alimentador e pena têm diversas aberturas para o ambiente, sem vedação positiva que impediria a tinta de vazar.

A caneta-tinteiro depende totalmente de dois fenômenos físicos para funcionar: a capilaridade que leva a tinta até a ponta da pena; e a tensão superficial que impede a tinta de sair. Idealmente, a tinta só prossegue além da pena quando a ponta encosta no papel. Estas forças são amplificadas pela estreiteza dos canais (menor que 0,1mm).

O alimentador regula os fluxos de tinta e de ar através de um único canal. Se a tinta encher completamente o canal, o ar não pode refluir, o que cria um vácuo no reservatório e "segura" a tinta. Por outro lado, é graças a esse vácuo que a tinta não vaza toda de uma vez, por gravidade.

O alimentador também possui "costelas", canais adicionais que servem tanto para admitir ar quanto para armazenar excessos de tinta. Tais excessos podem ser liberados quando o ar do reservatório é aquecido, ou quando a caneta sofre impacto. Sem as "costelas", o excesso de tinta não teria para onde ir, e vazaria.

Segue a aparência geral de um alimentador:

Figura 2: Alimentador de uma caneta-tinteiro

O alimentador é uma peça cilíndrica de plástico ou ebonite, cuja principal característica é um recorte no sentido do comprimento: o canal por onde fluem ar e tinta. Este recorte fica mais raso em direção à ponta, local em que a tinta migra para a pena. As "costelas" são entalhadas ao redor do canal principal.

O canal do alimentador não é liso, ele é ranhurado no fundo:

Figura 3: Corte do alimentador de uma caneta-tinteiro. Canal fora de escala.

O canal ranhurado foi a descoberta do Sr. Waterman que viabilizou a caneta-tinteiro moderna. A tinta usa os micro-canais do fundo, enquanto o ar ocupa a parte rasa. Antes da descoberta das ranhuras, a convivência entre ar e tinta era muito mais difícil; ou a caneta vazava, ou criava vácuo e precisava de um peteleco para "puxar" uma bolha de ar e voltar a escrever.

Por outro lado, a pena é essencialmente a mesma desde o tempo das canetas de pena de ganso:

Figura 4: Pena de uma caneta-tinteiro

O canal da pena é um simples recorte no metal, que deve estar bem encostado no recorte do alimentador, de modo que a tinta migre por capilaridade. Deve haver um finíssimo porém contínuo canal de tinta do reservatório até a ponta da pena para que tudo funcione bem.

Agora, um esquema desenhado de forma mais próxima a uma caneta real:

Figura 5: Corte de uma caneta-tinteiro

Em geral o alimentador é encaixado bem justo no corpo, ou mesmo parafusado, para vedar o reservatório. Um encaixe frouxo causa vazamento na base do corpo e permite a entrada de "ar falso", ou seja, ar que não passou pelo canal alimentador.

Outro ponto de possível vazamento é por trás da pena, se não está bem encostada no alimentador.

Quanto às demais aberturas ("costelas", encaixe da pena no corpo, etc.) a tensão superficial encarrega-se de não deixar vazamentos acontecerem por ali, salvo se você chacoalhar vigorosamente a caneta.

Créditos e avisos

A seqüência de procedimentos é baseada na trilogia de vídeos de Matt Armstrong ("The Pen Habit") a respeito do tema. Se possível, procure assistir aos vídeos.

Os procedimentos de ajuste sugeridos nesta página podem danificar permanentemente a sua caneta-tinteiro, e invalidam a garantia. Não assumo responsabilidade por danos. Faça uso das sugestões listadas aqui por sua conta e risco!

Sugiro veementemente treinar o ajuste em canetas chinesas baratas, que por um lado não causam um rombo no seu bolso se forem estragadas, e por outro lado sempre precisam de ajustes para funcionar bem, é o veneno e o antídoto no mesmo frasco. Já canetas caras têm garantia e, se precisarem de ajuste, podem/devem ser enviadas ao fabricante.

Preparo

Nunca faz mal lavar a caneta-tinteiro com água, e isto é particularmente recomendável para uma caneta nova. Resíduos, óleos e graxas do processo de fabricação podem estar presentes, e podem atrapalhar bastante porque perturbam a capilaridade. Para a primeira lavagem de uma caneta nova, pode-se usar uma mistura de água e sabão líquido, depois enxaguar com água pura.

Normalmente não é necessário desmontar a caneta todinha. Comece enxaguando as partes facilmente desmontáveis e os caminhos da tinta. Numa caneta de pistão, simplesmente encha e esvazie a caneta com água algumas vezes.

No caso de canetas artesanais com reservatórios "conta-gotas", como as indianas, pode haver pó e resíduos de ebonite em todo o interior da caneta. Pode ser necessário desmontar completamente, inclusive pena e alimentador, até porque o próprio alimentador pode ser artesanal. Aproveite para fazer uma boa limpeza nos canais capilares do alimentador com uma faca ou escova de dentes.

Para puxar a pena e o alimentador com segurança, utiize um pedaço de couro ou borracha para envolver as duas peças e puxar mais facilmente com as mãos. Em alguns modelos o alimentador é rosqueado, então procure descobrir antes o método correto de remoção.

Agora que a caneta está sabidamente limpa, passe para a fase de ajuste. O "correto" é fazer todo o procedimento de ajuste com a caneta cheia de tinta, pois você terá de testar a pena a cada passo, e naturalmente isso só pode ser feito com tinta e papel. Suja os dedos, mas funciona. Você pode tentar usar luvas nitrílicas, que quase não tiram sensibilidade.

Fluxo de tinta

A primeira questão que deve ser verificada em qualquer caneta nova é o fluxo de tinta.

Obviamente a caneta não deve vazar ou pingar, nem deve ser tão "seca" a ponto da escrita falhar. Refinando entre estes dois extremos, a caneta deve soltar tinta suficiente para que a pena esteja lubrificada e a escrita seja suave, evitando um excesso de tinta que pode causar problemas como borrões ou espalhamento, principalmente ao escrever sobre papel comum.

Dentro desta faixa, existe a preferência pessoal. Os hobbyistas costumam preferir canetas "suculentas" porque costumam usar tintas e papéis de qualidade, mas alguns casos de uso pedem pouca tinta.

Penas muito finas "arranham" mais que penas grossas. Isto é natural, já que a ponta é menor. Se você aumentar o fluxo de tinta com a expectativa de deixá-la suave como uma pena grossa, vai acabar "arrombando" a pena. O ajuste deve atender seu gosto, mas também deve respeitar o equipamento.

A principal causa de um fluxo de tinta insuficiente, principalmente em canetas chinesas, é o canal da pena muito fechado na ponta. A figura abaixo mostra, de forma exagerada, os diversos defeitos possíveis:

Figura 6: Representação dos possíveis defeitos de uma pena, no tocante ao canal de tinta

Se necessário, tire a pena da caneta, lave-a e observe-a contra a luz. O canal é fino mas deve poder ser visto a olho nu. Se a caneta estiver usando uma tinta clara, deve ser possível ver o canal preenchido de tinta.

A pena ideal tem um canal quase paralelo, fechando um pouco em direção à ponta. Um canal 100% paralelo faz a pena escrever mais grosso do que o esperado, mas ainda costuma funcionar bem. A maioria das penas chinesas vem com as pontas encostando, diminuindo o fluxo de tinta. Por outro lado, penas "arrombadas" também são indesejáveis e são mais difíceis de consertar.

Ajustar a pena é um exercício de delicadeza. É preciso forçar o metal um pouco além da "fase elástica" (em que trabalha como uma mola), até a "fase plástica" para que ele deforme, mas sem passar do ponto desejado. Uma deformação excessiva pode ser corrigida forçando para o outro lado — mas cada ciclo vai distorcer e endurecer a pena.

No caso do defeito mais comum — ponta fechada — tente primeiro inserir uma folha de latão bem fina (0,06mm) e torcer levemente. Numa pena com o canal correto, uma folha dessa espessura entra sem folga, mas sem esforço. O latão é o metal ideal por ser mole e não arranhar o interior da pena.

Se não tiver uma folha de latão, pode-se improvisar com um pedaço de alumínio de uma latinha de cerveja. Escolha a parte mais macia/fina do corpo da lata (0,10-0,15mm). Ainda é bem mais grosso que o ideal, e também mais abrasivo, mas é melhor do que nada. E algumas penas vêm tão fechadas que o latão amassa e não consegue abrir caminho, caso em que o alumínio acaba sendo útil.

Jamais use facas ou giletes, pois são metais duros demais e vão arranhar a pena. A capilaridade não funciona direito num canal arranhado. Além disso, estes utensílios são quase sempre grossos demais para a tarefa, e vão "arrombar" ou mesmo entortar a pena.

Se "torcer" a folha de latão não abrir o canal, a segunda tentativa é forçar a pena contra o papel, na posição normal de escrita, mas pressionando a pena diretamente com o dedo, mais ou menos onde termina o alimentador. O objetivo é abrir apenas a ponta, sem fazer com que o resto do canal desencoste do alimentador.

Se puder tirar a pena da caneta para fazer isto, melhor. É mais fácil pressionar a pena como um todo contra o papel, abrindo o canal como um todo com menos risco de entortar a ponta. E evita o risco de forçar o alimentador.

Toda pena tem um pouco de flexibilidade e abre as pontas sob pressão, como uma mola. Aqui entra a experiência e a delicadeza de forçar o suficiente para a pena permanecer aberta uma vez removida a pressão, mas não demais a ponto de "arregaçar". Force um pouco, observe novamente o canal contra a luz, tente de novo... Não tente acertar de primeira.

Se você "arregaçar" a pena, formando um canal que se abre em direção à ponta, ou se ela já apresentava o problema, o remédio é simplesmente forçar contra o papel na direção contrária, com a parte convexa para baixo. É obrigatório fazer isso com a pena desmontada, pois o alimentador está no caminho.

Se a caneta não escreve, ou pinga por trás da pena, pode ser que alimentador e pena não estejam alinhados. Conforme descrito antes, o canal do alimentador deve estar encostado e razoavelmente bem alinhado com o canal da pena.

A maioria das penas tem um buraco denominado "respirador", que na verdade serve para evitar que o metal rache. Ele facilita observar o canal do alimentador passando por baixo. Verifique com uma lupa se o alinhamento está correto:

Figura 7: Alinhamento entre pena e alimentador

No caso de penas "flex" que não têm esse buraco, o jeito é desmontar, alinhar bem as peças fora da caneta e montar o conjunto com mão firme.

Uma pena desalinhada em relação ao alimentador também pode ficar com as pontas desalinhadas, então um ajuste perfeito entre pena e alimentador ajuda com esse outro aspecto, que será abordado daqui a alguns parágrafos.

Se nada disso funcionar — a caneta continua sem escrever, ou continua pingando — sugiro desmontar a pena e verificar se ela não está torta. Penas muito maltratadas, que já sofreram muitos ajustes, podem ficar tortas em todas as dimensões, até o ponto de um lado ficar mais curto que o outro. Nesse caso é mais racional trocar a pena.

Vez por outra, também acontece de uma caneta vir com alimentador defeituoso, e infelizmente é uma peça sem muita possibilidade de conserto ou ajuste, principalmente se for de plástico.

"Heat set" de alimentadores de ebonite

O ebonite é considerado o material ideal para o alimentador da caneta-tinteiro. As canetas mais caras vêm com alimentador de ebonite, e vêm perfeitamente ajustadas de fábrica. Mas também canetas artesanais (geralmente indianas) ou feitas para hobbyistas (Noodler's) vêm com alimentador de ebonite.

Nestas últimas, é relativamente comum acontecer da caneta pingar tinta quando deixada com a ponta para baixo. Às vezes acontece o problema contrário: a caneta é "seca" demais. Ambos os problemas são causados pelo excesso de folga entre a pena e o alimentador.

O "heat set" resolve o caso. Trata-se de aquecer o ebonite com uma chama ou com água fervente para que fique maleável. Aqueça pena e alimentador, e pressione um contra o outro. Isto "molda" o ebonite perfeitamente ao formato da pena.

Se a caneta vaza na base do corpo, pode ser que o alimentador não esteja vedando no encaixe. Remova alimentador e pena, aqueça ambos fora da caneta, e reinstale-os quentes. Com um pouco de sorte, o alimentador molda-se ao encaixe e passa a vedar.

O procedimento pode ser repetido tantas vezes quanto necessário, e geralmente é mesmo necessário repeti-lo em caso de troca da pena.

Alinhamento

Uma vez que o fluxo de tinta seja suficiente para lubrificar a escrita, a maior fonte de desconforto é o desalinhamento das metades da pena, porque as faces internas do recorte por onde passa a tinta não são polidas, nem devem ser, e nunca deveriam entrar em contato com o papel.

Figura 8: Alinhamento da ponta da pena: correto e incorreto.

Para verificar o alinhamento, é necessário usar uma lupa de qualidade, com ampliação 10x ou melhor, como aquelas utilizadas em relojoaria ou joalheria. Um sintoma é fácil de constatar sem lupa: se a caneta "arranha" mais escrevendo em uma direção do que em outra (digamos, mais para "sudoeste" que para "nordeste"), está obviamente desalinhada. O desalinhamento pode ser tão grande que a caneta "morde" o papel, arranca fibras ou mesmo rasga-o.

Um desalinhamento realmente grande pode ser causado por um erro crasso de montagem: a pena pode estar encaixada torta no corpo da caneta, ou o alimentador está torto, ou pena e alimentador não estão alinhados entre si. Não custa verificar de novo, mas é algo que deveria ter sido sanado lá na fase anterior, na regulagem de fluxo de tinta.

Mesmo que a caneta não pareça arranhar mais num sentido que em outro, desconforto ou atrito excessivo é sintoma de um desalinhamento de pequena monta, visível apenas com a lupa.

Para corrigir o desalinhamento, é novamente preciso forçar o metal. Um desalinhamento pequeno pode ser consertado com a caneta montada, forçando o lado mais próximo do alimentador para longe. Um desalinhamento grande pode exigir que cada lado seja forçado numa direção, e isso tem de ser feito com a pena desmontada da caneta. Use apenas os dedos; nunca use ferramentas de metal.

Trabalhe devagar, sentindo onde termina a "fase elástica" do metal, procurando diminuir o desalinhamento a cada ciclo em vez de tentar acertar de primeira. Tenha em mente que o metal aceita um número finito de intervenções. Se for ajustada vezes demais, a pena acabará torta e com um lado mais curto que o outro. Então gaste seu "crédito" com sabedoria.

Polimento

Uma caneta com bom fluxo de tinta e alinhamento perfeito da pena vai entregar 99% do seu potencial, mas tem aquele 1% vagabundo... Talvez ainda haja um desalinhamento microscópico que é impossível de corrigir. Ou a ponta da pena não é tão lisa quanto poderia ser (o que inclusive prejudica o fluxo de tinta, pois a pena não encosta inteiramente sobre o papel). Ou mesmo o polimento original não casa com seu ângulo e estilo de escrita. Nestes casos, o polimento pode ajudar.

Mas é importante que ele seja feito apenas depois de corrigir qualquer problema de fluxo de tinta e/ou de alinhamento. Polimento é uma operação irreversível, pois remove material. Existe a tentação de começar pelo polimento porque é mais fácil, mas isto pode estragar a pena pela criação de uma "bunda de bebê":

Figura 9: A pena da direita tem o defeito denominado "bunda de bebê" (baby's bottom)

"Bunda de bebê" é um arredondamento das faces internas da pena, que impede a tinta de chegar à ponta por capilaridade. Uma pena com esse defeito é extremamente suave enquanto escreve, e parece perfeita... mas precisa ser pressionada para começar a escrever, o que nega a maior vantagem da caneta-tinteiro. Se você tentar amaciar uma pena desalinhada com polimento, vai estar polindo uma face interna, trocando um problema por outro, de forma irreversível.

Dá para consertar uma "bunda de bebê"? Dá, mas é preciso "fabricar uma ponta nova", lixando a ponta da pena até eliminar as faces internas problemáticas, e então polir bem as faces externas. Talvez a pena não sobreviva a esta provação, então evite fazer polimentos "de graça", para não cair neste problema.

Também é importante usar papel de qualidade para testar a pena por ocasião do polimento. Se você usar papel rugoso de baixa qualidade, a caneta sempre vai parecer rombuda, com muito atrito e feedback. Você pode lixar e polir a pena até destruí-la, e nada muda porque o problema não está nela. Mais importante ainda é usar sempre o mesmo papel: se você sabe como uma pena boa escreve sobre determinado papel, saberá quanto falta para a pena sob ajuste chegar lá.

Penas finas ou extra-finas são naturalmente menos confortáveis porque fazem mais pressão sobre o papel e soltam menos tinta. Se você tentar alcançar a suavidade de uma pena grossa numa pena extra-fina, vai acabar destruindo a pena.

Agora que você está bem prevenido das conseqüências de polir a pena antes do tempo ou com expectativas erradas, segue o procedimento.

A Goulet Pen vende lixas micromesh 12.000, bem como pedaços de Mylar 1µm e 0,3µm, estes últimos para ultra-polimento. O grão 12.000 remove pouco material e é relativamente seguro. Penas de menor qualidade precisam de lixas mais grossas, entre 2.000 e 8.000. De qualquer forma, lixas acima de 2.000 não têm textura de lixa, e sim de couro — forma fácil de identificar se o grão é suficientemente fino.

Lixas de pintura automotiva são meio grossas, costumam ir de 500 a 2.500 no máximo. Uma lixa 500 ou 1000 poderia ser útil para o caso de uma grande intervenção, como a remoção de uma "bunda de bebê", ou algo exótico como a criação de uma ponta oblíqua.

Fora esses usos, a lixa de unha é uma aposta mais certeira. Uma boa lixa de unha é feita de material flexível, um tipo de espuma ou EVA endurecido. Evite aquelas de madeira que parecem um palito de picolé com areia colada. As boas lixas vêm com três ou quatro texturas diferentes, das quais você vai usar as mais finas. É uma opção barata e fácil de achar.

Alguns canetistas sugerem improvisar com papelão. Todo papelão tem uma porcentagem de argila, o que o torna abrasivo, serve inclusive para afiar facas. Porém o papelão tem textura muito irregular, e um pouco grossa demais, em torno de uma lixa 1000.

De posse da lixa fina, o método é simples: com a caneta montada e cheia de tinta, desenhe alguns "oitos" sobre a lixa, na posição e pressão normais de escrita. Vá "rolando" um pouco a ponta, e também varie um pouco o ângulo vertical a cada "oito", para que o polimento não achate a ponta. A cada meia dúzia de "oitos", faça testes no papel para ver se mudou alguma coisa. Não deve ser necessário mais que duas ou três sessões sobre cada grão de lixa.

Por que lixa começar? Em geral, quanto maior a qualidade da pena, e quanto mais suavemente ela já escreve, maior o grão inicial. Uma pena alemã Jowo, do tipo que equipa as canetas TWSBI, não deve precisar de polimento nenhum. Se quiser arriscar, tente os papéis de Mylar.

As Jinhao 599 de US$ 2 geralmente precisam começar na segunda textura mais grossa da lixa de unha. As Jinhao x450/x750 podem começar na textura mais fina da lixa de unha, prosseguindo para papel 12000 e Mylar. Estas são apenas recomendações gerais; é preferível "errar para cima" começando por um grão fino demais.

O pior que pode acontecer ao usar lixa fina demais é a caneta evoluir pouco ou nada a cada sessão de polimento. Por outro lado, uma lixa grossa demais vai riscar a ponta, efetivamente piorando a caneta, exigindo muito polimento com grãos mais finos para consertar o estrago, sempre causando remoção irreversível de metal.

Devo lembrar novamente que polir a pena "antes do tempo" é um erro muito fácil de cometer. Se a caneta parece desagradável ao escrever, sempre verifique fluxo de tinta e alinhamento da pena antes de pensar em polir, mesmo que você já feito esta mesma verificação anteriormente.