Se não estiver com saco de ler o texto, pode assistir o video abaixo:
Este artigo escrito menciona mais papéis que o video, pois adquiri alguns tipos de papel depois de finalizar o video.
O papel ideal para caneta-tinteiro deve ser o mais liso possível para que a pena deslize suavemente. Também deve ser pouco absorvente, de modo que a tinta seque sobre o papel, ou pelo menos não atravesse para o outro lado. O traço não deve expandir em largura (spreading) e não deve formar aqueles "cabelinhos" por capilaridade das fibras do papel (feathering).
Como bônus, a combinação do papel certo com a tinta certa apresentará efeitos desejáveis como shading (variação da cor) ou mesmo sheening (brilho inesperado em pontos de muita concentração de tinta). Esses efeitos só podem acontecer se o papel não for muito absorvente.
Tirando guardanapos e papel higiênico, nenhum papel é celulose pura. Sempre há algum revestimento: amido, talco, argila, etc. para deixá-lo mais liso e impermeável. Bons papéis também tendem a ser grossos para que a tinta não atravesse, embora isto seja desimportante se você não faz questão de escrever em ambos os lados.
Devido à ditadura da caneta esferográfica, é relativamente difícil achar bons papéis para tinteiro. Os melhores tendem a ser importados e caros. Por ser um material volumoso e pesado, o frete internacional de papel é particularmente caro. Mas, garimpando aqui e ali, já se acha papel suficientemente bom no mercado nacional.
Vou dar os preços de alguns papéis por folha A5, por dois motivos. Primeiro, porque importei alguns neste formato para baratear a operação. Segundo, porque gosto de blocos neste tamanho; faço blocos colando a borda longa de papel A4 e cortando no meio.
Segue a resenha individual dos papéis que tive a oportunidade de testar pessoalmente.
Chamex é uma marca afamada, é quase sinônimo de papel sulfite. Testei dois papéis: 75g marfim e 90g branco, ambos compatíveis com impressoras inkjet e laser. Já os tinha aqui para impressão. Incluí no teste por serem um "denominador comum" e por ser comum escrever sobre formulários ou textos pré-impressos em sulfite.
Vantagens: barato (R$ 0,02 por folha A5), facilmente encontrado, melhor que muitos papéis encontrados em agendas e cadernetas. Como é provável que você tenha de escrever sobre impressos, é bom ter pelo menos uma tinta que desempenhe bem sobre sulfite.
Desvantagens: tinta absorve e atravessa facilmente, cria "cabelinhos" (principalmente o 75g). Não é muito liso, portanto é desconfortável para escrever com tinteiro.
Comprei este no supermercado, apenas porque acabou o papel para a impressora, e era a única marca disponível. Quando fui usá-lo, chamou atenção o bom acabamento, extremamente liso. Fiz um teste com caneta-tinteiro e realmente foi muito bem, como se fosse um papel de "grife".
Vantagens: as mesmas de qualquer sulfite (preço, disponibilidade). Apenas não sei se o desempenho vai se manter conforme a resma de papel absorve umidade do ar.
Desvantagens: um pouco fino, dá pra ver o que está escrito no avesso. Se isto for um problema, escolha a versão de 90g.
Vantagens: Muito branco, liso, encontrável no Brasil.
Desvantagens: cria muitos "cabelinhos" ao escrever, mais que qualquer outro papel testado. Definitivamente não recomendado para caneta-tinteiro.
Achei e testei o papel 90g. A versão de 120g tem fama de ser ainda melhor para tinteiro, além de ser ainda mais branco, porém este não se encontra no mercado nacional.
Os "dotpads" da figura abaixo foram pré-impressos na tentativa de imitar a padronagem dos blocos Rhodia.
Vantagens: mais bem revestido que o papel sulfite comum. É mais liso e menos absorvente. Barato (R$ 0,03 por folha A5). Fácil de encontrar no Brasil e também no resto do mundo. É uma escolha bastante segura.
Desvantagens: Apenas um lado é bem revestido, que deve ser usado para escrever com tinteiro (e para imprimir). O lado avesso é parecido com sulfite comum.
Rhodia é uma marca antiga e muito afamada. Seu principal produto é o bloco de papel, vendido em diversos tamanhos. O papel pode ser liso, pautado ou marcado com os famosos "dotpads".
A marca pertence à Clairefontaine, uma empresa francesa de papel. Se você procura papel solto em vez de blocos prontos, pode comprar da nave-mãe.
Vantagens: muito liso, macio e confortável para escrever. Grossura (80g) e revestimento são na medida para escrita manual. O bloco é por si só muito bonito. É considerado o "papel padrão" para tinteiro.
Desvantagens: não encontrado no Brasil. Custo/benefício ruim: R$ 0,20 por folha A5 (mais frete internacional) — há papéis melhores com preço semelhante, e papéis equivalentes com preço menor.
Spiral é uma marca pertencente à rede de papelarias Kalunga.
Vantagens: Liso e pouco absorvente, apesar da pouca gramatura. Aspecto da escrita melhor que qualquer sulfite. Muito barato em se tratando de papel para desenho (R$ 0,035 por folha A5). Fácil de encontrar no Brasil.
Desvantagens: Papel é fino demais para ser usado dos dois lados. Revestimento de apenas um lado. Não encontrável em folhas soltas, apenas em blocos.
Esta marca pertence à empresa GPK.
Vantagens: papel com boa grossura, evita que a tinta atravesse, e também evita a translucidez. Parece ser revestido de ambos os lados. Liso, pouco absorvente e bastante branco. Encontrável no Brasil. Bom preço (R$ 0,08 por folha A5). Vendido em folhas soltas.
Desvantagens: preço e gramatura um pouco altos para usar como rascunho.
Esta marca também pertence à empresa GPK, e o papel também é muito semelhante ao Romitec.
Vantagens: papel com boa grossura, evita que a tinta atravesse, e também evita a translucidez. Parece ser revestido de ambos os lados. Liso e pouco absorvente. Encontrável no Brasil. Bom preço (R$ 0,08 por folha A5). Vendido em folhas soltas.
Desvantagens: preço e gramatura um pouco altos para usar como rascunho.
Este papel tem revestimento resistente a água e álcool. Apesar de ser pouco conhecido entre canetistas, a qualidade rivaliza com o conhecidíssimo Tomoe River.
Vantagens: Extremamente bem revestido, absorção quase zero. O traço fica quase como se fosse desenhado a pincel. Muito branco e bastante liso ao tato. A tinta não atravessa apesar da gramatura baixa (70g). Pode ser encontrado no Brasil via e-commerce.
Desvantagens: Lado avesso é hidrofóbico, não aceita tinta. É caro: R$ 0,25-0,30 por folha A5. Visualmente menos liso que o Tomoe River. O revestimento parece apenas manter a tinta em cima da folha, sem reagir com ela, aumentando o tempo de secagem para tintas como Noodler's que são feitas para reagir com a celulose.
Este é considerado o rei dos papéis para caneta-tinteiro. O uso original deste papel super-fino era impressão de catálogos, daqueles enviados pelo correio. Sendo fino, pagava menos frete.
O Tomoe lembra o papel que se usava antigamente para escrever cartas, que também tinha de ser leve para o correio aéreo. Esta e outras características acrescentam ao charme de se escrever com este papel.
Vantagens: extremamente bem revestido, absorção zero e tinta nunca atravessa. Nada de "cabelinhos", o traço fica liso e redondo como se fosse desenhado a pincel. O revestimento reage com a tinta, então o tempo de secagem não é prejudicado. Liso como se fosse de material sintético. Igualmente revestido dos dois lados. É um papel visivelmente sofisticado e diferente de qualquer outro.
Desvantagens: muito caro (R$ 0,33 por folha A5, sem contar o frete internacional). Não encontrável no Brasil. Apesar da tinta não atravessar, o papel é meio transparente devido à pouca gramatura. Cor tende ao creme.
O cheiro do revestimento Tomoe lembra papel fotográfico fosco para inkjet. As características de absorção também, conforme a figura abaixo:
A figura acima é apenas ilustrativa; não recomendo papel fotográfico para escrever com tinteiro. Não só porque seria extremamente caro, mas principalmente porque o papel absorve toneladas de tinta e o traço fica artificialmente grosso.