A gente tem a impressão que tudo anda para trás no Brasil, e às vezes no mundo. Mas tem uma coisa que decididamente melhorou MUITO nos últimos 10 anos: o acesso à internet, tanto urbano quanto rural. Principalmente no meio rural, se considerarmos que há 10 ou 15 anos a Internet era praticamente inexistente.
Na zona urbana de cidades desenvolvidas, as telecoms tradicionais oferecem Internet rápida via fibra ótica FTTC ou FTTP, via TV a cabo, ou mesmo xDSL (ADSL, VDSL) via linha telefônica, esta última a caminho da extinção no longo prazo. Em cidades grandes e pequenas, a fibra ótica PON é oferecida por pequenos provedores, e ultimamente até por telecoms tradicionais.
Na zona rural, a maior parte dessas tecnologias não funciona economicamente, pela baixa densidade de clientes e pela distância até o PoP (ponto de presença) onde a rede se interliga com o resto do mundo. Mas não existe impeditivo técnico para, por exemplo, levar TV a cabo para o campo.
A tecnologia que virou o jogo foi a fibra ótica PON. A ideia deste sistema é que cada fibra ótica que sai do provedor de acesso (ISP) pode atender até 50 ou 100 clientes, a até 20km de distância. O sinal é dividido por meios óticos, não há nenhum aparelho elétrico no caminho. A modalidade XGPON promete atingir até 60km.
Graças ao PON, a Internet chegou a rincões onde nunca se imaginou chegaria, e com qualidade e velocidade iguais ou superiores à Internet "da cidade", onde a infra-estrutura de cobre era um ativo e agora virou um estorvo.
Outro grande impulso recente foi político: desde 2017, ISPs com menos de 5.000 clientes não precisam mais de outorga, o que significava pagar 9.000 reais por ano. Antes disso, muita gente (inclusive este seu criado) cogitava em abrir um pequeno provedor, mas desistia. Não por acaso, o crescimento de ISPs a partir de 2017 tornou-se explosivo.
Se considerados em bloco, os pequenos e médios provedores já são maiores que as telecoms tradicionais. Estamos assistindo agora uma tendência à consolidação, onde grandes provedores estão comprando concorrentes menores.
Mas a fibra ótica ainda não chega a todo lugar. Para quem está fora do alcance da fibra, a segunda opção é a Internet via rádio. A tecnologia usa o mesmo Wi-Fi que você tem em casa, porém com antenas direcionais e aparelhos de melhor desempenho. (A tecnologia WiMax, que prometia ser o verdadeiro "Wi-Fi de longa distância" na década de 2000, não vingou.)
As grandes desvantagens da Internet via rádio são a velocidade menor e a interferência em caso de chuva. Mas ela pode ser bem satisfatória, a depender do capricho e da diligência do provedor.
Quando não há nem fibra ótica nem rádio, a saída é Internet via celular. No meio rural, é comum usar antena alta e/ou direcional para atingir a torre de celular mais próxima, que pode estar a dezenas de quilômetros.
Nos tenebrosos anos 2000, Internet celular foi a salvação da lavoura para muita gente, inclusive na zona urbana de cidades pequenas. Em muitos grotões, a internet EDGE, pré-3G, foi a primeira "banda larga" que chegou.
Um problema insolúvel da Internet celular é a franquia ou limite de dados, sempre muito baixo em relação à velocidade, e incompatível com usos modernos da Internet (Netflix, YouTube, etc.). É viável apenas para conectar uma central de alarme, checar e-mail e WhatsApp, e acessar a Web convencional.
Ela também tem suas vantagens: pode funcionar como telefone convencional, e funciona mesmo quando há falta de energia na região. Mesmo que você tenha fibra ou rádio, 3G/4G pode ser uma boa para link secundário, link do alarme, etc.
A última opção é Internet via satélite da HughesNet. Existe há mais de 20 anos, atendia e atende escolas e empresas de rincões isolados.
Problemas: é cara, lenta, com latência gigantesca, e franquia minúscula. É para uso "sério" e extremamente parcimonioso. Os planos melhoraram ultimamente, e estão mais parecidos com os números oferecidos por um plano de celular. Mas o satélite geoestacionário é inerentemente limitado.
Temos outra opção de satélite: a StarLink do Elon Musk. O Starlink usa um enxame de satélites em baixa órbita, o que permite entregar latência (40ms) e velocidade (50Mbps) semelhantes a uma banda larga ADSL. Não se sabe se a StarLink vai conseguir sustentar esse bom desempenho conforme aumenta o número de clientes. Não há franquia de dados hoje, mas pode haver no futuro.
Se o Starlink sustentar suas promessas no longo prazo, é um game changer para usuários isolados, sem dúvida.
No momento ela tem duas grandes desvantagens: custo salgado, em particular o investimento inicial no equipamento; e a necessidade de uma vista desobstruída do céu em todas as direções. Um campo aberto seria ideal (o requisito mínimo é um cone de 100 graus de visão).