Como sabem alguns, tenho um "canal" no YouTube onde já postei muitos vídeos sobre teclados mecânicos customizados, montados do zero a partir de componentes individuais. Foi uma fase que durou de 2017 até 2022. Outros interesses e ocupações me afastaram dos teclados, e francamente já tinha montado todos os kits interessantes que se podia encontrar.
Nos últimos tempos, voltei a pesquisar no AliExpress para ver as novidades, e quem sabe montar mais um tecladinho. Para minha surpresa, encontrei muito menos kits e peças do que antigamente. E definitivamente não vi nada novo e excitante. A "febre" dos teclados DIY já era.
Por outro lado, a variedade de chaves é maior que nunca. Os keycaps SA baratearam muito, a ponto de parecerem estar em liquidação; talvez seja bom comprar logo alguns antes que os vendedores saiam de vez do mercado. E os teclados mecânicos "ready-made" experimentaram uma explosão cambriana, sendo oferecidos em inúmeros layouts e pontos de preço.
Muitos teclados prontos são hotswap, as chaves e keycaps são substituíveis, o que lhes empresta um grau de customização suficiente para a grande maioria dos entusiastas. Nem todo mundo gosta de brandir ferro de solda, e são tempos perigosos para fazer isso, talvez por conta do chumbo da solda? Um ex-presidente aí foi tentar montar seu teclado DIY e acabou preso pelo STF.
Dentre os teclados mecânicos "ready-made", destaca-se a marca Keychron. Ao que parece, esse fabricante realmente captou os desejos dos entusiastas.
Os teclados da Keychron têm aparência DIY, usam os melhores materiais possíveis para cada ponto de preço, são customizáveis, rodam firmware QMK/VIA que além de aberto/livre é atualizável via Web. FINALMENTE um fabricante de hardware aprendeu que ele só tem a ganhar abrindo o software.
Por outro lado, os teclados deles têm recursos fora do alcance dos kits DIY: conexão wireless, chaves laterais para fácil comutação entre layout Windows e Mac. Alguns modelos usam chaves ópticas ou de efeito Hall. São realmente o melhor de dois mundos. Lembrando que iPhone e principalmente iPad só aceitam teclados externos Bluetooth, um público que não pode mais ser ignorado.
Por fim, há a vantagem da presença institucional no Brasil, embora as encomendas sejam enviadas direto de fora.
O preção salgado também lembra os teclados DIY, agravado pela "taxa das blusinhas" e pelo dólar quase duas vezes mais caro que em 2017.
A Keychron sofre de um problema tal qual a Apple sofria imediatamente antes do retorno de Steve Jobs: uma linha de produtos confusa. Este vídeo faz um excelente trabalho ao destrinchá-la.
A série K da Keychron é a de "uso geral", nem a mais cara (Q, HE) nem a mais barata (B, C). A série K possui modelos "slim", com as polêmicas chaves slim. O modelo K3 Max é slim. Sempre tive curiosidade de ter um teclado assim, embora já tenha tentado um no passado (Dareu EK820) e a experiência não foi boa.
Para polemizar ainda mais, optei pelas chaves "azuis" (barulhentas), que tinham causado um problema adicional no EK820 — ponto de contato inconsistente com o clique. Mas decerto um teclado do preço do Keychron não repetiria o defeito.
O teclado é realmente bom, como esperado. Uma queixa de alguns resenhistas é que ele parece "lento", no sentido de que ele induz a uma digitação mais lenta. Tive uma sensação muito parecida, porém descobri um antídoto parcial: o ajuste de inclinação, que no K3 Max tem três ângulos possíveis. Principalmente se você usa aqueles descansos de pulso. Visualmente, a diferença entre os ângulos parece irrisória, mas para as mãos, é crítico.
Provavelmente as chaves "marrons" ou "vermelhas" são opções melhores para um teclado slim, pelo toque mais semelhante a um teclado de notebook, quiçá diminuindo ainda mais a sensação de "lentidão". Mas, como disse, a intenção era sair da zona de conforto, adicionar à coleção um exemplar totalmente diferente do usual.
Depois que se pega o ritmo, o ruído é agradável, exceto para seus colegas de trabalho, com um quê de Telex ou Selectric em funcionamento. A propósito, a outra coisa que noto no site da Keychron é a menor oferta de chaves "azuis", que produzem clique audível, em comparação a outros tipos. Certamente elas têm menos clientes, pela impossibilidade ou pelo menos pela inconveniência de usá-las em ambientes públicos.
A embalagem e apresentação são "padrão Apple": caixa bonita, inclui todos os componentes possivelmente necessários, até mesmo um adaptador USB-A fêmea para USB-C fêmea, cartão de referência rápida, manual, ferramenta de remoção de keycaps.
O layout não é exótico, é um 75% no estilo dos teclados de notebook. A curiosidade é que ele vem por padrão com layout padrão Mac: teclas Command junto à barra de espaço, embora os keycaps apropriados para Windows estejam inclusos, basta trocar. Mais um sintoma que o teclado foi pensado para usuários de iPad. (Ou que o comprador típico é usuário do ecossistema Apple.) Há até mesmo uma tecla dedicada a screenshots com crop (Command-Shift-4 no Mac, combinação que todo usuário tarimbado conhece).
Para os joiados, gamers, e <censurado> de plantão, tem backlight RGB, com inúmeras configurações, mais ou menos o que se pode encontrar no projeto QMK, do qual o firmware do Keychron é derivado. As teclas são PBT, portanto as letras não são translúcidas, o que diminui a utilidade do backlight.
O K3 Max não é um teclado topo-de-linha. É bem construído, mas parte da caixa é em plástico, com rigidez suficiente, não excepcional. O som de funcionamento não é o ponto forte dele, e isso é esperado até pelo formato "slim", mais difícil de tornar pesado/rígido e de rechear com abafadores.
Por outro lado, o K3 é leve, fino e pequeno, uma opção séria para quem é nômade digital e faz questão de um bom teclado, e ainda mais para os que gostam de fingir que um iPad mais um teclado mecânico fazem um desktop (é, eu julgo mesmo). Seu concorrente mais próximo, e muito mais famoso dentro de seu nicho, é o Logitech MX Mechanical Mini.