Como afirmei num post anterior, comprei o livro História do Trem no Contestado de Nilson Thomé, mas não era exatamente o que eu queria. Eu queria mesmo era o livro "Trem de ferro - a ferrovia no Contestado", do mesmo autor, porém de 1980. Edição esgotada há décadas, literalmente.
Mas, incrivelmente, o amigo LVR deu-se ao trabalho de achar um exemplar no sebo! Na verdade ele conseguiu-me a segunda edição, de 1983. Definitivamente não mereço tanta consideração, então vou pagar logo o tributo da resenha, antes que ele se arrependa.
Para quem possui o livro mais novo (História do trem no Contestado) o livro mais velho (Trem de ferro) não acrescenta muita coisa ao quadro geral.
A principal vantagem do livro de 1983 é concentrar o foco histórico entre 1890 e 1920. Sendo um livro de mesmo tamanho, e letra mais miúda, obviamente tem muito mais conteúdo específico sobre o Contestado e sobre os trâmites de construção da ferrovia. Como fonte de informação sobre o Contestado em si, é excelente. Também possui muito mais fotos de época.
O estilo do livro novo é mais agradável. Também chamou-me a atenção que a aparente opinião do autor mudou com o tempo: o livro de 1983 tem um tom "anti-capitalista" bem acentuado.
Na mesma linha, o livro mais recente dispensa um tratamento mais simpático a Percival Farquhar. Obviamente, trinta anos a mais fizeram o autor enxergar que, apesar dos pesares, Farquhar "fazia acontecer"; as únicas ferrovias existentes até hoje em Santa Catarina foram construídas por ele. (Tirante o Tronco Sul que foi construído pelos militares. Pior ainda!)
Enfim, basta lembrar que o Muro de Berlim caiu em 1989. É interessante como o zeitgeist presente muda a interpretação do passado, mesmo o passado distante.
Naturalmente, o tempo não mitiga o espanto com os fatos da Guerra do Contestado em si. Genocídio mesmo: uma tarefa levada a cabo pelo Exército brasileiro e que demandou a presença de quase todo o seu efetivo à época.
Este livro de 1983 tem, acima de tudo, significação totêmica; foi um dos primeiros, senão o primeiro, trabalho sério sobre o assunto. Nilson Thomé é o Euclides da Cunha tardio do Contestado. Este livro deveria ser objeto de desejo tal qual uma antiguidade.
Muito do que se fala e do que se encontra escrito por aí sobre o Contestado — que presumimos ser "assunto exaurido" por antigo e bem estudado — na verdade provém deste livro, escrito 70 anos depois dos acontecimentos! O autor inclusive reclama, no prefácio da segunda edição, de plágio generalizado do conteúdo.
O site VFCO, sobre trens e ferreomodelismo, publicou uma resenha bastante detalhada deste mesmo livro, juntando outras informações e outras fontes sobre o mesmo assunto.