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Teclado 40% Magicforce 49

Conforme dito no artigo sobre teclados de computador, os teclados mecânicos com pequeno footprint e escasso número de teclas estão na moda. Depois da popularização dos teclados 60% (com 60 a 68 teclas) é preciso brandir um teclado 40% para ser reconhecido como um hipster descolado.

Até esses dias, teclados 40% eram obras de artesanato. O kit monte-você-mesmo Planck era (e é) relativamente caro para um teclado que, no fundo, a maioria sabe que não vai usar.

Mas os chineses atenderam às preces dos hipsters "financeiramente desafiados" e lançaram o Magicforce 49.

Figura 1: O layout do teclado Magicforce 49

Como se pode ver, um teclado 40% omite bloco numérico, teclas de função, a fileira de números e algumas teclas de símbolos. Quase sempre apresentam uma barra de espaço diminuta. Não é um layout 100% inédito; numa época pré-iPhone, alguns teclados para celular usavam um layout parecido para que pudessem ser pequenos e portáteis.

Os teclados Magicforce são instâncias daquele tipo de produto chinês que está comendo o mundo: relativamente barato, bem-feito, bonito, durável, só não é inovador. Tenho dois teclados Magicforce 68 (que são clones do WhiteFox), já tive outros dois com chaves mecânicas diferentes, e recomendo fortemente.

O Magicforce 49 é igualmente um produto bom, bonito, que cumpre o que promete, nem mais nem menos. Paga o tributo brega com um backlight azulado monocromático, com diversos efeitos predefinidos. Bem ao estilo chinês, o conceito de "40%" é levado ao limite (49 teclas fica mais para 50%).

Pode ser um presente interessante, é quase um souvenir, e pode ser engraçado se o recipiente tentar usá-lo para valer.

Esse negócio é prático para usar no dia-a-dia? Provavelmente não, tanto pelas limitações inerentes de um teclado com quarenta e poucas teclas, quanto por algumas decisões de design deste modelo em particular.

Figura 2: Magicforce 49 - etiqueta traseira

Em primeiro lugar, o Magicforce não é programável — recurso obrigatório num teclado 40%. Por quê? Cada pessoa e cada uso pedem a presença de teclas diferentes. Por exemplo, um programador Linux faz mais uso da barra normal "/" e pode passar sem uma tecla dedicada à barra inversa "\", mas talvez seja o contrário para um desenvolvedor Windows.

Num teclado 40% programável, faz sentido todas as teclas serem do mesmo tamanho, exceto talvez por um Shift e a barra de espaço, que realmente todo mundo usa. O Magicforce possui muitas teclas largas, inclusive o Esc, o que dificulta a substituição dos keycaps e inutiliza iniciativas futuras que permitam torná-lo programável. (Neste ponto, fica claro o quão bem pensado foi o kit Planck, o que redime seu preço salgado.)

Outra decisão de layout que parece boa, mas só parece, é o grande número de teclas de movimentação. Há até uma tecla Delete dedicada! Pessoalmente, eu trocaria todas por teclas de símbolos, que fazem muita falta para desenvolvimento e durante o uso do editor vi. Devo admitir que meu ponto de vista é viciado, enquanto usuário de Mac que ainda por cima vive no terminal... as teclas de movimentação são muito mais exigidas no mundo PC, e naturalmente o teclado tenta agradar "gregos e australianos".

Ao menos tiveram a coragem de remover o Caps Lock. (Ele continua existindo no mesmo lugar de costume, mas só é acessível via combinação com Fn.)

Outro ponto universalmente criticado no Magicforce 49 é a barra de espaço do lado esquerdo, e a posição do Shift direito. De maneira geral, as posições das teclas modificadoras parecem ter sido escolhidas sem qualquer consideração de ergonomia. Ninguém deve ter tentado usar esse teclado por vários dias para validar o layout antes de produzi-lo.

Mas, se o teclado não é programável, ainda é possível mexer diretamente no hardware para rearranjar as teclas modificadoras. Seguindo uma dica encontrada nalgum beco obscuro da Internet (Reddit?) foi possível "arrumar" o teclado.

Figura 3: Mudando o layout na marra, cortando trilhas e fazendo pontes. Ao todo, três teclas da fileira dos modificadores foram alteradas desta maneira.

As mudanças foram as seguintes: a) Shift direito convertido para barra de espaço; b) Ctrl direito convertido para Fn, tornando-o uma tecla de "duplo tamanho", pelo menos eletricamente; c) Fn esquerdo convertido para Windows/Command. Não fiz estas mudanças na louca; realmente usei (ou tentei usar) o teclado para identificar as mudanças desejáveis.

Obviamente qualquer layout 40% é limitado, o problema do Magicforce 49 não se restringe às más escolhas do modelo. Apesar das teclas numéricas serem a omissão mais flagrante, na prática o que realmente incomoda são os "acordes" com três ou mais teclas. Ter de pressionar "Fn Shift W" para digitar "@" mata a produtividade.

No Mac, que já é conhecido por usar acordes do tipo Command-Shift-Option-letra, a simples navegação entre abas do browser exige um acorde de quatro teclas (Command-Fn-Shift-H, que é o jeito de fazer Command-"{").

O Magicforce piora as coisas exigindo acordes que não têm relação nenhuma com teclados normais, por exemplo "Fn Shift F" para digitar "-", sendo que a memória muscular espera encontrar este símbolo à direita do zero.

Afinal de contas, existe alguma vantagem de se usar um teclado 40%? Sim, existe. As mãos não precisam se movimentar, porque não há teclas distantes dos dedos. Devo admitir que a sensação é curiosa e agradável. Se o usuário investir tempo para aprender os "acordes", e o seu uso típico não exigir símbolos ou números demais, talvez possa fazer bom uso de um teclado desse tipo.