Site menu Peregrinação na Ferrovia do Contestado (parte 3 de 3)

Peregrinação na Ferrovia do Contestado (parte 3 de 3)

Este artigo é dividido em três partes. Esta é a terceira parte. Clique aqui para retornar à parte anterior.

O terceiro dia foi reservado para voltar para casa, com tempo suficiente para apreciar a paisagem. Decidi voltar por Caçador/SC e Lebon Regis/SC, para dar uma variada.

Figura 1: Estação antiga de Caçador/SC, reconstituída
Figura 2: Estação antiga de Caçador/SC, reconstituída
Figura 3: A icônica ponte ferroviária sobre o Rio Caçador. A cidade começou no encontro deste rio com o Peixe.

Não era o plano mas a curiosidade me fez entrar em Caçador. O vale do rio do Peixe é bastante "profundo" (não sei qual seria a palavra correta), e por consequência a cidade é bastante acidentada.

A estação antiga da Figura 1 na verdade é uma réplica da original, que pegou fogo. Também foi construída fora do local original, pois lá está a estação "nova", de alvenaria.

Figura 4: Rio do Peixe cruzando o centro de Caçador/SC

A réplica da estação velha é também um museu, que pra variar também estava fechado! O pátio da estação nova apresenta até um triângulo (tornado desnecessário pelas locomotivas a diesel). Parte do pátio foi transformado em parque, mas pelo menos mantiveram os trilhos, ainda que meio enterrados. A preservação da história ferroviária é digna de nota e embeleza muito a cidade.

Figura 5: Estação de Caçador/SC, cujo pátio parcialmente transformado em parque
Figura 6: Estação de Caçador/SC, cujo pátio parcialmente transformado em parque
Figura 7: Triângulo da estação de Caçador/SC cruzando a rua

Videira é outra bela cidade próxima, também muito bonita e próspera. As fotos abaixo são anacronismos pois visitei Videira em outra viagem, mas cabe o registro aqui pela proximidade e pelo relevo semelhante.

Figura 8: Cidade de Videira/SC, vista do observatório do aeroporto
Figura 9: Estação ferroviária de Videira/SC convertida em parque linear

Tirando a "descida" para o centro de Caçador, boa parte da minha viagem correu em grande altitude, entre 1000m e 1200m, sobre a Serra Geral. Esta região é o gigantesco divisor de águas de Santa Catarina: a bacia do rio Iguaçu ao norte, a bacia do Itajaí-Açu a leste, rio do Peixe a oeste, rio Uruguai ao sul.

A Serra Geral é um obstáculo natural, e mais recentemente uma área de preservação. Até naquelas fotos noturnas da NASA que captam luz artificial, esta região aparece notoriamente às escuras, contrastando com os extremos leste e oeste de SC.

O celular ficou sem sinal desde a saída de Caçador até Monte Castelo, umas 4h de viagem (claro, no meio disso teve almoço e uma tentativa de chegar na Serra da Ferradura). Talvez a TIM pegue, mas ficou claro que a cobertura é pobre na região.

Figura 10: Igreja em Lebon Regis/SC

A cidade de Lebon Regis é minúscula e acanhada. A única obra notável é a igreja. Tem alguma coisa de plantação de maçãs, e de fato é meio próxima a Fraiburgo.

Toda a região vive num ritmo consideravelmente diferente do que conhecemos aqui na região de Joinville. Por um lado o simple life tem minha simpatia, por outro me deixa apreensivo quanto a oportunidades de estudar, de trabalhar, até mesmo de se divertir. A oferta de produtos e serviços é limitadíssima, faz as cidades pequenas aqui do "feudo alemão" parecerem metrópoles.

Nestas regiões a figura do "provedor privado de Internet", praticamente extinta nas cidades maiores, ainda é a salvação de quem precisa de conectividade. Nesta região em particular há uma tal de GegNet que parece ser ubíqua; vi carros dela umas 3 ou 4 vezes durante minhas andanças.

Figura 11: 1135m

Curiosamente, o restaurante onde comi (em Santa Cecília/SC) não pegava nenhum tipo de celular, mas disponibilizava Internet de graça aos comensais por WiFi. O que me permitiu mandar mensagem para casa :)

Outra característica da "cultura local" é que havia CDs piratas à venda. Faz anos que eu não via isto.

O terceiro dia reservou a principal "derrota" do passeio: não consegui encontrar uma estrada para a Serra da Ferradura, onde há diversos túneis da ferrovia Tronco Principal Sul (que segue mais ou menos a linha da BR-116). Não parece haver estradas, apenas caminhos no meio de reflorestamentos, e eu não estava a fim de invadir propriedades desta vez. Andar pelos trilhos tomaria muito tempo, seria coisa para uma expedição específica para isto, com equipamento para acampar etc. (Alguns "loucos" já fizeram isto, vide as fotos no Google Earth.)

Figura 12: Estação Coronel Kelvin, em Santa Cecília. Quase no final da subida da Ferradura, é a única de acesso fácil, por um caminho de reflorestamento a partir da SC-478, a poucos km da BR-116.
Figura 13: Ponte após a Estação Coronel Buarque, em Santa Cecília. A estação fica praticamente na margem da BR-116, e a ponte é visível a partir da SC-478. O rio que corre por baixo é o Timbó Grande, que nasce perto dali, corta todo o Contestado e deságua no Iguaçu.
Figura 14: Descida da Serra Geral na BR-116/SC

Na BR-116 eu tratei de dirigir com muita calma, devido à fama de "Rodovia da Morte". Ela está bem conservada agora, e não tive nenhum susto. Apenas os caminhoneiros apresentaram o feio hábito de tangenciar curvas, invadindo parte da pista contrária. A paisagem e a descida da serra em si são muito bonitas.

Figura 15: Curiosa árvore com tronco preto

Eu podia ter fuçado mais na área do Tronco Principal Sul, mas queria chegar em casa ainda com dia claro. Fiz apenas o "noblesse oblige", entrando na cidade de Monte Castelo.

Figura 16: Estação de Monte Castelo/SC`

O Tronco Principal Sul é uma ferrovia em atividade mas não dei sorte de topar com um trem enquanto estava na área. Até enrolei um pouco, parando num viaduto, indo visitar uma ponte, mas não era o dia.

Figura 17: Viaduto da BR-116/SC sobre o Tronco Principal Sul

E assim terminou a andança. Até a próxima :)

Ah sim. Acho interessante mencionar que o IBGE disponibiliza, on-line e de graça, os mapas cartográficos de toda a região, assim como de muitas outras. Há algumas lacunas Brasil afora, mas pelo menos em SC a cobertura parece ser total.

O site do IBGE é confuso; há diversas versões dos mapas, algumas em JPEG, algumas em PDF, tudo espalhado em pastas de um servidor FTP bem lento. Os PDFs são mais detalhados e imprimem mais nítido, porém são gigantescos. Só o Acrobat Reader consegue abri-los e imprimi-los em múltiplas folhas. Depois, cola e estilete para juntar o quebra-cabeça.

O "atalho dos preguiçosos" é ir na loja do IBGE, procurar o mapa e fazer download do JPEG (a loja oferece a opção de comprar ou fazer download para todos os mapas). A resolução do JPEG é suficiente para uso recreativo. A opção é pagar R$ 50 por carta.

Imprimir o JPEG em múltiplas folhas deu mais trabalho, pelo menos no Mac. Acabei usando um utilitário chamado PosteRazor para esta tarefa.

A escala destes mapas varia com a região. Mapas 1:50.000 são ideais, mas na região do Contestado eles são 1:100.000. Por força da escala, eles omitem alguns detalhes que fazem falta na orientação em campo. Mas é muito melhor do que nada, e dá uma visão muito melhor que Google Maps ou Google Earth (até porque o Google Maps vai te deixar na mão assim que você sair da cobertura celular).

Os mapas do IBGE são bastante defasados, a maioria foi desenvolvida entre 1973 e 1983. Felizmente, rios e montanhas não mudam de lugar, e mesmo as estradas tendem a permanecer onde estão, sendo apenas melhoradas, alargadas ou até asfaltadas, com uma e outra retificação mas no geral usando os mesmos direitos de passagem já demarcados na época dos mapas.

F I M