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Tamanho do sensor importa?

No Brasil as novas tecnologias demoram um pouco para chegar. Apesar de tantas novidades interessantes, o que se vê nas lojas ainda é DSLR Canon e Nikon. Mas quem viaja ao exterior, ou tem um amigo que viaja, as opções estão em aberto. E, cedo ou tarde, elas também chegarão a cada loja aqui do bananal.

Mesmo comprando no exterior, é pragmático verificar se o fabricante pode dar manutenção a seu equipamento fotográfico aqui no Brasil. Felizmente, a maioria dos grandes fabricantes já tem algum grau de presença por aqui (Olympus é a única exceção negativa, por enquanto).

Existem diversos sistemas de câmeras e lentes intercambiáveis. Escolher um é uma decisão difícil, porque são equipamentos caros, e o usuário tende a "casar" com o sistema que escolheu. O "divórcio" é possível, mas todo divórcio implica numa penalidade financeira, então todo mundo quer acertar na primeira tentativa. Alguns sistemas:

O medo de investir num sistema e ficar órfão é justificável. Dos sistemas acima, os três últimos têm futuro incerto, embora A-mount e Four Thirds ofereçam um caminho de migração para E-mount e Micro Four Thirds, respectivamente.

Rolou o boato que a Samsung abandonaria o sistema MX — de fato ele sumiu até da loja Samsung do shopping — e neste caso seria perda total para os respectivos usuários... O fato é que, cedo ou tarde, haverá consolidação do mercado e a lista acima terá a metade do comprimento daqui a 10 anos.

Talvez o modus operandi dos fotógrafos tenha de mudar, e esse apego a um sistema seja obsoleto? Talvez fosse melhor comprar o que é mais prático hoje, e parar de esquentar a cabeça. Mas isso é uma discussão de outra ordem.

Os sistemas acima podem ser agrupados em quatro tamanhos de sensor:

No caso das câmeras "point and shoot", cujas lentes não podem ser trocadas, a decisão não é tão pesada porque ela se restringe ao custo da câmera, que vai durar uns quatro anos no máximo até estragar, ou o usuário enjoar. A maioria das câmeras simples usa sensores menores que 1". Se o usuário puder pagar o preço, seria melhor procurar por modelos com sensor 1" ou maior, a qualidade das fotos agradece.

Existe uma celeuma enorme a respeito do melhor tamanho de sensor para um sistema intercambiável. Em nenhum momento da história da fotografia se gastou tanta tinta como na discussão full-frame versus APS-C versus Four Thirds (felizmente, é tinta digital).

Como regra geral, quanto maior o sensor, melhor a qualidade da imagem. Isso é indiscutível, e é derivado das leis da Física. O ideal seria usar aquelas máquinas fotográficas com sanfona, e um sensor de 8 por 10 polegadas no lugar do filme. Vantagens genéricas de um sensor grande:

Por mais que proponentes (ou gente que investiu pesado num sistema de sensor pequeno) diga que o tamanho do sensor não importa... ele importa.

Um sensor pequeno também tem vantagens, porém quase todas pragmáticas, ou seja, são respostas a desvantagens do sensor grande:

Um péssimo efeito colateral da digitalização da fotografia é tornar os grandes formatos inacessíveis. Isso porque, enquanto uma chapa de filme tem preço proporcional à área, o custo de um sensor digital cresce exponencialmente com o tamanho.

Os chips de silício são fabricados em lotes, sobre "wafers" ou fatias circulares de silício puro de uns 30cm de diâmetro. Um certo número de defeitos aleatórios atinge cada "wafer", e alguns chips do lote não funcionarão. Quanto maior a área do chip, maior a chance dele ser atingido por um defeito, e menor a produção de chips bons por wafer.

Suponha que transformar um wafer em circuitos integrados custe $5.000 por wafer, e que ocorram em média 10 defeitos por wafer. Se couberem 100 chips num wafer, o rendimento (yield) será de no mínimo 90%, ou 90 chips bons por wafer, a um custo de $56 cada. Se couberem apenas 15 chips no mesmo wafer, o rendimento médio será de apenas 5 chips bons, custando $1000 cada. Um chip apenas 6 vezes maior custa 18 vezes mais.

Uma coincidência do destino é que o mundo fotográfico tinha se padronizado em torno de um tamanho relativamente pequeno de filme, o 35mm. É factível fazer sensores digitais deste tamanho, embora ainda custe relativamente caro. Se a fotografia tivesse mantido o médio ou grande formato como o mais usado, a fotografia digital demoraria muito mais para "colar", ou então provocaria uma mudança de paradigma ainda mais disruptiva.

Em meados dos anos 1990, um sensor "full-frame", do mesmo tamanho do filme 35mm, ainda custava algo como US$ 30.000. De início as câmeras digitais profissionais padronizaram-se no formato APS-C, que é aproximadamente 33% menor que full-frame em cada dimensão. As primeiras DSLRs, lançadas em 1999, custavam "apenas" 5 mil dólares.

A diferença de tamanho é costumeiramente expressa como fator de corte (1.5x no caso do APS-C) para simplificar a relação entre comprimento focal e ângulo de visão. Uma lente de 50mm em 35mm ou full-frame oferece aproximadamente a mesma visão que 35mm em APS-C (35 x 1.5 = 52.5). Este tipo de conversão era e é importante porque Nikon e Canon mantiveram a compatibilidade com lentes para 35mm em suas máquinas APS-C.

Com o tempo o custo dos sensores diminuiu, e as melhores DSLR voltaram a ser full-frame. No entanto, os modelos APS-C permanecem à venda, porque a diferença de preço ainda é muito alta. Um sensor full-frame custa vinte vezes mais, apesar de ter apenas o dobro da área. Uma câmera DSLR full-frame continua sendo cara demais para uma compra de impulso — que é como muita gente "casa" com um sistema. Finalmente, existe todo um ecossistema de lentes voltadas para APS-C (Nikon DX e Canon EF-S).

E a discussão continua acirrada: APS-C ou full-frame?

Conforme dito antes, em tese um sensor maior é sempre melhor. Mas a diferença entre full-frame e APS-C não é tão grande para justificar tanta discussão. O ponto de fulcro do debate é a perda de controle da profundidade de campo, leia-se, a capacidade de gerar um fundo desfocado (bokeh!).

Para um mesmo ângulo de visão, deve-se dividir a abertura pelo fator de corte para estimar o impacto na profundidade de campo. Por exemplo, considere uma lente 50mm f/2.8 full-frame. Para obter uma profundidade de campo igualmente rasa, uma máquina APS-C precisa de uma lente 35mm f/1.8 (aprox. 50mm dividido por 1.5, e f/2.8 dividido por 1.5).

É uma diferença importante; por exemplo, não há forma prática de replicar o visual de uma lente f/1.4 numa máquina APS-C, pois seria preciso uma lente f/0.9 para emular o mesmo visual. Mas convenhamos que uma lente f/1.4 de qualidade não é um artigo muito comum na mochila da maioria dos fotógrafos.

A não ser que os sensores full-frame fiquem realmente baratos, a ponto de cada câmera "point-and-shoot" possuir uma, acho que o sensor APS-C é um bom compromisso entre preço e qualidade.

Fabricantes como Samsung, Fuji e Canon devem concordar comigo, já que criaram seus sistemas mirrorless em torno deste tamanho de sensor. E criar um sistema novo não é um passeio no parque; é preciso desenvolver dezenas de lentes, e vender milhões delas, para que o sistema atinga algum grau de respeitabilidade.

A Sony está atirando para todos os lados: possui quatro sistemas, que são as combinações de encaixes "A" e "E", com sensores APS-C e full-frame. No momento quem está ganhando todas as manchetes é a câmera A7R (mirrorless, full-frame, encaixe E).

E quanto aos sistemas com sensores ainda menores, como Four Thirds e Nikon 1?

O sistema Nikon 1 tem um fator de corte de 2.7 vezes, escolha estranha para um padrão lançado em 2011. Não creio que seja um sistema viável, porque o controle de profundidade de campo fica muito prejudicado. Atingir um visual 50mm f/2.8 full-frame pediria uma lente 18mm f/1.0, que não existe.

Se fosse a única câmera digital existente no mundo, talvez os padrões estéticos mudassem (assim como os padrões estéticos atuais são, a meu ver, derivados do cinema), mas não é o caso. Adaptar lentes de DSLR é praticamente inútil, a não ser que o usuário busque um zoom extremo (uma lente de 200mm ganha campo de visão equivalente a 540mm).

(Note que esse negócio de padrão estético pode sim mudar com o tempo, e talvez esteja mudando neste momento. Com tanta gente tirando foto em celular, pode muito bem acontecer que a geração atual e a próxima comecem a se acostumar com profundidade de campo mais funda, e neste caso as pessoas procurariam câmeras com sensores menores, tipo Four Thirds ou mesmo 1", para emular o mesmo visual, apenas com mais qualidade e mais sensibilidade no escuro.)

As câmeras Nikon 1 têm recursos dignos de nota, como rajadas de 60 fotos por segundo e autofoco rápido, que poderiam criar um nicho de mercado. Não se pode negar que são esteticamente bonitas, também. Por outro lado tudo isso aumenta a angústia sobre quão imbatível seria uma mirrorless Nikon com sensor grande, que por algum motivo a empresa não se digna a lançar.

O sistema Four Thirds (na verdade, Micro Four Thirds) é mais intrigante. O fator de corte 2.0x é grande porém não tão distante do APS-C. Uma coisa inédita no mundo da fotografia é o fato do 4/3 ser um consórcio de diversos fabricantes de câmeras mais um bom número de fabricantes de acessórios. Isso aumenta muito as chances de sucesso do sistema, pois serve a clientelas muito mais diversas. Até drone com câmera compatível 4/3 já existe à venda.

A justificação econômica do 4/3 também é mais fácil de entender, pelo menos de um ponto de vista histórico: o padrão foi cunhado em 2003. Nessa época, mesmo o sensor APS-C era proibitivamente caro. Mas as coisas mudaram um tanto desde então.

Aliás, esse é o meu maior medo em relação a qualquer sistema atual: amanhã ou depois a tecnologia muda, fabricar sensores full-frame ou até maiores torna-se super barato, e quem tiver feito um grande investimento em lentes de um sistema está com o mico na mão. É pouco provável que uma mudança destas aconteça assim repentinamente — a indústria de semicondutores briga há décadas com essa questão de tamanho de chip. (E se acontecer, tem o lado bom: todos nós poderemos migrar para a fotografia de grande formato!)

As câmeras 4/3 também dão show em termos de tecnologia, por ter sido um sistema projetado para a fotografia digital desde o início. Novamente, tudo isso acaba fazendo o povo salivar ainda mais por câmeras mirrorless com sensores grandes. As câmeras 4/3 são tão boas que nem sequer são baratas.

Apesar dos chamarizes tecnológicos, eu ainda acho que se deve optar pelo sistema com o maior sensor possível que caiba no bolso. E "caber no bolso" no momento é prerrogativa do APS-C.

Nesse tamanho de sensor, além dos sistemas Nikon DX e Canon EF-S que dispensam apresentações e têm participação confortável no mercado, há alguns sistemas mirrorless que merecem consideração. Quem se considera "descolado" e/ou quer uma câmera menos chamativa tem algumas opções, embora no Brasil todas ainda sejam difíceis de achar, e absurdamente caras.

Do ponto de vista da consistência, o sistema Canon EF-M é o que mais faz sentido, porque ele tem um encaixe novo de lente, mas as lentes EF e EF-S ainda são cidadãs de primeira classe. O kit da câmera pode vir com o adaptador, enquanto outras marcas cobram o equivalente a uma câmera básica por esse adaptador. As câmeras EOS-M não são muito ambiciosas, tanto que nem são lançadas no mercado mundial (cada modelo é lançado apenas em um ou dois continentes). A Canon não está sendo agressiva no mercado mirroless, mas pelo menos mostra o caminho que vai tomar. E está centrada no sensor APS-C.

As câmeras Fuji X e Samsung NX são muito mais atraentes e ambiciosas que as Canon mirrorless. Já tive nas mãos uma X-E2 e uma NX-200, e ambas me encantaram. São atraentes o suficiente para serem compradas por impulso, e tecnologicamente estão muito à frente das DSLRs. (Eu diria o mesmo das Olympus e Nikon 1, se não fosse o sensor. De todas as câmeras, as Olympus parecem ter o design mais bonito, em minha opinião.) Pirotecnias tecnológicas não tiram fotos melhores, mas essas coisas fazem a alegria da vida, o que também é importante. Porém há este boato da Samsung estar saindo do mercado. O sistema da Fuji parece estar indo bem no momento.

A grande incógnita é a Nikon, que poderia sair de um dia para o outro com um sistema mirrorless ou mesmo full-frame, com algum grau de compatibilidade com as lentes Nikon F. Pessoalmente, eu usaria o mesmíssimo encaixe, apesar dos 20mm a mais de profundidade de flange. A pouca agressividade da Canon faz todo mundo esperar para ver o que fará a sua maior concorrente. Isso deprime o mercado como um todo, porque muita gente adia as compras.