Tem aquela famosa piada, que Silvio Santos é o maior químico do mundo porque consegue transformar qualquer domingo numa bosta. Isto é um pouco injusto; na verdade podemos aprender muito com Sílvio Santos, conforme pretendo demonstrar.
Dois programas do SBT, que já não existem, eram particularmente interessantes: "Topa ou Não Topa", e o "Sete e Meio".
Para quem não conhece ou não lembra, "Topa ou Não Topa" consistia num conjunto de 24 malas, cada uma valendo certa quantia. Os valores eram conhecidos desde o início do jogo e seguiam uma progressão geométrica, começando com 50 centavos, depois R$ 1, 5, 10, 50, 100 e assim por diante, até um milhão. Naturalmente, não se sabia a princípio que valor estava em qual mala.
O participante ia excluindo malas até sobrar apenas uma, que seria seu prêmio. Cada mala excluída era imediatamente aberta. A cada poucas malas, o "banqueiro" oferecia uma quantia para que o participante desista do jogo.
A difícil escolha do participante é entre segurança (a quantia certa oferecida pelo banqueiro), e a expectativa de haver 1 milhão na última mala. A quantia oferecida pelo banqueiro era mais ou menos a média ponderada dos valores ainda em jogo. Digamos, se havia 2 malas a serem abertas, e tinham sobrado apenas os valores 0,50 e 1 milhão, o banqueiro iria oferecer algo próximo de 500 mil.
Era engraçado constatar como a maioria dos participantes jogava errado, e sempre por ganância. Em geral, em algum momento do jogo, o "banqueiro" oferecia uma quantia muito acima da média ponderada das malas restantes. Era a chance que o Sílvio dava ao participante de sair com um bom dinheiro, mas quase ninguém agarrava a oportunidade.
Teve uma participante com cinco malas por abrir, todas com valores muito baixos exceto uma com 1 milhão. O "preço" para ela sair do jogo seria 200 mil. Eu teria aceitado pular fora até por menos de 100 mil. O banqueiro ofereceu 340 mil, e ela ainda assim quis continuar. Saiu do programa com 5 reais.
Tem razão o livro "Axiomas de Zurique" ao mencionar que a ganância é um grande inimigo dos investidores.
O outro programa, "Sete e Meio", era simplesmente uma implementação do "dilema do prisioneiro". Dois jogadores deveriam escolher entre duas cartas: 7 ou 1/2. As cartas eram então reveladas, e a tabela de pagamentos era a seguinte:
Diferente do dilema do prisioneiro teórico, os jogadores podiam comunicar-se antes de dar as cartas. Mas, novamente por ganância, e contrariamente ao que combinavam antes, ambos sempre escolhiam o 7, e sempre saíam de mãos abanando.
Na minha opinião, é porque os jogadores não enxergavam quem era seu real oponente: Sílvio Santos. O objetivo do jogo não era tirar a grana do outro jogador; era tirar a grana do Sílvio. Enxergando a coisa desta forma, o jogador escolhe a carta 1/2, porque mesmo que o outro jogador escolha 7, eles foram vencedores: tiraram dinheiro de Sílvio Santos.
É algo maravilhoso, algo entre alta ciência e truque de magia, como Sílvio Santos faz o jogador enxergar errado quem é seu real adversário.
Também mereceria um estudo aprofundado como este mesmo truque é tirado da cartola em outras instâncias da nossa vida. Por exemplo, como os políticos colocam as ditas classes sociais umas contra as outras para roubarem mais sossegadamente.