Uma vez que estou passando pela experiência de passar cabeamento de rede pela casa nova, gostaria de compartilhar minhas impressões, a quem interessar possa.
DISCLAIMER: não sou profissional instalador de cabeamento estruturado de rede, sou um "amador avançado" na melhor das hipóteses. Se quiser me ignorar, e tiver o QSJ para contratar um instalador profissional, bom para você.
Mesmo assim, procure conhecer o básico do assunto para não ser enganado. Você ficaria surpreso sobre o quanto tem de aprender sobre elétrica, hidráulica, alvenaria etc. quando constrói uma casa, só para ter condições de orientar a mão-de-obra.
A primeira pergunta que todo mundo faz, e que eu mesmo fiz ao cabear a casa, é: que tipo de cabo de rede usar? Categoria 5? 6? 7? Ou fibra óptica? A resposta depende das suas necessidades de rede.
Fazer uma instalação 100% fibra óptica ainda não é prático, apesar de altamente nerd e future-proof, simplesmente porque os equipamentos terminais (access points, roteadores, switches, câmeras, IoT) são todos conectados via Ethernet de cobre. Seria necessário espalhar conversores de mídia ou switches de fibra pela casa. Fibra óptica também não atende aplicações PoE.
Por outro lado, cabos de rede de cobre são vitimados por interferências e surtos, então vamos querer usá-los apenas em ambientes confinados e lances curtos — bem mais curtos que os 100 metros permitidos. Para interligar prédios, mesmo que próximos, fibra óptica é praticamente obrigatório. Se usar cabo de cobre, cada trovoada vai queimar algum aparelho seu.
Então, dentro de uma residência, vamos de cabo de cobre. (Se fosse uma empresa, o conselho seria ir de fibra, levando-a até cada sala ou ambiente, no mínimo.)
As categorias de cabo de rede atuais são as seguintes:
Categoria 5e ou Cat5e: o mais comum em instalações existentes, e ainda empregado em instalações novas. Velocidade máxima original de 100Mbps x 100m, pode atingir 1 gigabit em instalações bem-feitas e até 2.5 gigabits em lances curtos. Cabo relativamente fino, maleável, fácil de passar em dutos, fácil de conectorizar e barato.
Categoria 6 ou Cat6: o mais comum em instalações novas. Velocidade original de 1 gigabit x 100m, pode atingir 5 gigabits x 100m ou 10 gigabits x 50m. Mais grosso e menos maleável que o Cat5e, mas ainda considerado acessível a amadores. Cabos e conectores fáceis de encontrar no Brasil.
Cat6 blindado: variante blindada do Cat6, é ainda mais grosso e menos maleável, além de exigir conectores especiais e/ou aterramento. Em troca, é mais resistente a interferências. Encontrável no Brasil.
Categoria 6A ou Cat6A: muito citado em instalações novas no exterior em ambientes exigentes. Velocidade 10 gigabit x 100m. Muito mais grosso e menos maleável que o Cat6, considerado difícil de conectorizar corretamente — os fios individuais são bem grossos e qualquer mancada de crimpagem impede o cabo de atingir o desempenho máximo. Existe nas versões blindada e não-blindada. Difícil de achar no Brasil.
Categoria 7 ou Cat7: não "colou" por usar conector diferente do RJ45, e não ter sido aprovada por todas as entidades de telecomunicações. Suprida pelo Cat6A, que apesar do número menor, é mais recente.
Categoria 7A ou Cat7A: mesma situação do Cat7, foi suprida pela Categoria 8 classe II.
Categoria 8 classe I: cabo blindado, conector RJ45. Desempenho similar a Cat6A em 100m, porém é certificado para uso até 30m x 40Gbps ou 10m x 100Gbps, apenas em datacenters e ambientes assemelhados. Difícil de achar no Brasil, exceto talvez pelos patch cords.
Categoria 8 classe II: cabo blindado, com blindagem individual de cada par trançado, alcança 100 Gbps x 30m. Conector TERA ou GG45, herdados da categoria 7A. Difícil de achar no Brasil.
Lá no final desta página, se alguém tiver curiosidade, menciono categorias mais antigas de cabo.
Considerando apenas as categorias encontráveis no Brasil e com banda mínima gigabit, temos Cat5e, Cat6 e Cat6 blindado. Provavelmente Cat6 não-blindado é a melhor escolha, pelos seguintes motivos:
a) O cabo Cat6 faz 10 gigabits x 50m, uma distância mais que suficiente em instalações residenciais. Distâncias maiores podem e devem usar fibra óptica, independente da questão da banda.
b) A flexibilidade e espessura do cabo são qualidades importantes numa instalação residencial, onde há dutos e curvas fechadas. Cabo de rede não foi feito para ser passado em eletroduto ou terminado em caixinha de luz. O cabo Cat6 já está no limite da dificuldade.
E sempre vai ter aquele pirangueiro que vai se coçar pra instalar Cat5e... É bem verdade que há os novos padrões de 2.5 e 5 gigabits, que trafegam em Cat5e. Também há o padrão NBASE-T que negocia automaticamente a velocidade (0.1, 1, 2.5, 5 ou 10 gigabits) de acordo com a qualidade do cabo. Mas quem garante que os produtos de rede implementarão NBASE-T? E mesmo que implementarem, 10 gigabits é melhor que 5.
Os cabos Cat6 e Cat6A são vistos como os "últimos cabos de cobre" antes de tudo migrar para a fibra óptica. Não fosse a questão da conexão aos equipamentos, fibra óptica já ganha de Cat6/6A em todos os quesitos: mais barata, mais fina, e mais fácil de conectorizar. Há um tópico mais adiante sobre fibra em casa.
CUIDADO: compre todos os componentes (plugs, keystones, cabos) da mesma categoria! Sim, no passado já cometi o erro de comprar cabo Cat6 achando que entrariam nos conectores RJ45 Cat5e que tinha em estoque. Não entram, porque o fio do cabo Cat6 é mais grosso (AWG 23-24) que o Cat5e (AWG 26).
Se você estiver montando uma rede hoje (2023-2025), no Brasil, o ponto ótimo dos equipamentos ativos está na velocidade de 1 gigabit. Switches gigabit são comuns e baratos. Raros são os equipamentos com portas de 2.5, 5 ou 10Gbps. Switches 10 gigabit são super caros.
Usando equipamentos gigabit e cabos Cat6 em lances relativamente curtos, você está preparado para ir a 10 gigabit no futuro. Mas isto é suficiente?
Fazer previsões é sempre arriscado, mas acredito que 10 gigabits serão suficientes para uma rede residencial pelos próximos 15-20 anos (a primeira versão deste artigo foi escrita em 2023).
Pessoalmente, acho bobagem tentar divisar o futuro para além disso. Talvez surjam técnicas que aumentem a velocidade do cabo Cat6, assim como já aconteceu repetidas vezes com o Cat5/5e. Você poderia passar uma fibra óptica junto com o cabo de cobre, e deixar como espera.
De qualquer forma, a realização que sua rede precisa de upgrade virá aos poucos. Quando seu provedor oferecer 40 gigabits, distribuir 10 gigabits por cômodo ainda será suficiente por um bom tempo (exceto para seu filho gamer que tem fetiche por GPUs e SpeedTest).
Supondo que ainda estejamos vivendo em casas e apartamentos (e não em bunkers subterrâneos ou bases lunares) uma coisa boa a se fazer é prever dutos suficientes em número e capacidade, para facilitar a futura troca do cabo.
O padrão Ethernet, tal qual o Papai do Céu definiu, prevê apenas conectores "fêmeas" na instalação fixa. Os "machos" devem restringir-se a patch cables curtos e prefabricados. Você sabia disto?
Quando se fala que a Ethernet garante alcance de 100m, isso presume 90m de lance principal, conectorizado por keystones (aquelas tomadinhas de parede) ou patch panels, mais dois patch cables de no máximo 5m cada. Qualquer desvio desse ideal diminui o alcance garantido. Existe até mesmo um tamanho mínimo para patch cable: 1m. Se for mais curto que isso, a depender do equipamento, pode dar problema.
A razão disto é que todo conector fêmea tem um circuito que faz o casamento de impedância. Os conectores RJ45 de acrílico não têm casamento de impedância e causam reflexo de sinal. "Ah, mas os patch cables usam esse mesmo conector!" Sim, mas os patch cables são as "pontas de linha". O reflexo é confinado a um cabo curto (mas não tão curto) do lado do transmissor, o que diminui seu impacto.
Então, eis a má notícia: aquele conector RJ45 macho de acrílico, baratinho e fácil de fazer, não é considerado um conector escorreito. Ele é tolerado, mas não deveria existir numa instalação ideal.
Um patch cable pode ser prefabricado ou artesanal. Deve-se dar preferência aos prefabricados, principalmente se forem muito manipulados, pois são mais flexíveis e resistentes. Costumam ser feitos de cabo mais maleável e mais fino, mas que é impossível de crimpar manualmente, então o negócio é comprar pronto.
Note que patch cables devem ser considerados itens consumíveis; eles acabam estragando, portanto nunca embuta-os em lugares inacessíveis.
Infelizmente, em instalações amadoras, costumamos fazer tudo do contrário e crimpamos machos RJ45 nas duas pontas de todos os cabos, conectando-os diretamente aos equipamentos de rede.
Por que fazemos isso? Porque keystones são caros, patch panels são mais caros ainda, e crimpá-los exige técnica e ferramenta diferentes dos RJ45 machos. E porque casas antigas não têm tomadas para rede, então não há onde instalar um keystone. O cabo sai direto de um furo na parede, então é mais fácil conectá-lo direto ao equipamento.
Dá problema? Dificilmente, até porque numa casa ou escritório pequeno os lances costumam ser curtos. Na minha instalação, usei keystones mas elidi os patch panels. E vamos ver o que acontece quando tentar trafegar 10 gigabits no futuro. Este artigo mostra que, se cada ponta for diretamente ligada a um equipamento ativo de rede, funciona direitinho.
Às vezes é simplesmente mais prático, e mesmo mais estético, que a ponta do cabo seja macho e conecte direto ao equipamento — caso de câmeras IP, access points fixos na parede, etc. A forma 100% correta de fazer isso é usando o conector de campo. Além de não precisar de ferramenta de crimpagem (daí o nome), ele tem casamento de impedância.
(Por ser anatomicamente macho, mas eletricamente equivalente a um keystone fêmea, alguns chamam o conector de campo de "fêmea trans" ou "conector com questões de gênero". Os fundamentalistas cristãos devem odiá-lo.)
Mas não se engane, esse conector de campo é (na minha opinião) mais difícil de fazer do que o crimpado. Além disso, cada modelo é um pouco diferente. Antes de comprar em quantidade, analise os modelos existentes à venda, e teste qual deles lhe parece mais prático de montar.
O outro problema do conector de campo é ser mais volumoso que o RJ45 comum, e não cabe e.g. na cápsula de proteção do conector contra umidade de algumas câmeras IP. A boa notícia é que a norma mais recente permite que uma das pontas de uma instalação permanente seja macho, e ainda passe na certificação, desde que essa ponta seja conectada diretamente ao equipamento.
O que fazer quando um cabo ficou curto, e precisamos esticá-lo, de forma temporária ou mesmo permanente?
Temos o acoplador fêmea-fêmea para unir diretamente duas pontas machos. Não é um componente "abençoado" pela norma e não se recomenda numa instalação permanente. Mas é bom ter em estoque para emergências. Segundo este site, se você usar apenas um, tudo vai funcionar perfeitamente.
Para resolver o problema de forma permanente, existe a caixa de junção, em que os cabos são crimpados diretamente. Melhor que isso, só passando um cabo novo.
Prefira as caixas de junção como a da foto acima, ainda que sejam volumosas e exijam a ferramenta "punch down" (a mesma utilizada para keystones). Existem modelos menores que parecem um plug RJ45 macho siamês, que não precisam de nenhuma ferramenta, mas pessoalmente achei muito mais difíceis de montar.
Caixas de junção não existem na categoria Cat6A, o que não nos afeta porque escolhemos cabos Cat6, mas se você optou por cabos Cat6A, fique sabendo.
Outra opção de prolongamento é simplesmente crimpar um keystone numa ponta e um RJ-45 na outra. A norma não tem nenhuma ressalva contra isto. A única questão é que pode dar mau contato no futuro, então não pode ficar em local inacessível. Eu protegeria essa conexão com fita adesiva e plástico, e fixaria os cabos para evitar qualquer estresse ou tração.
PoE significa "Power over Ethernet", é a entrega de energia elétrica através do cabo de rede. É uma tecnologia muito útil, mas que abre as portas do inferno dos problemas de compatibilidade.
O principal problema do PoE é que muitos equipamentos "PoE" não seguem o padrão 802.3af. Existe até um eufemismo no mercado:
"PoE passivo" significa PoE que não segue a norma. Trata-se simplesmente de injetar energia elétrica no cabo de rede para alimentar o equipamento remoto, numa voltagem qualquer. Problemas: o equipamento remoto precisa estar esperando por isso, e a voltagem esperada precisa coincidir com a voltagem injetada.
"PoE ativo" é o PoE de verdade, que segue o padrão 802.3af. O switch ou injetor PoE ativo só fornece energia quando solicitado pelo equipamento remoto, na tensão padrão de 48V.
PoE passivo é uma gambiarra, embora existam casos de uso válidos. Meu principal problema com o "PoE passivo" é o potencial de confusão, colocando o consumidor sob risco permamente de queimar equipamentos, ou até causar um incêndio.
Outro golpezinho é vender um switch PoE ativo barato, porém sem a fonte, que custa mais que o switch; e a tensão de saída do PoE é a mesma da fonte, então se comprar errado, vai dar algum tipo de bolo. Equipamento PoE de marcas decentes (Intelbras, Ubiquiti) custa caro, infelizmente. A parte "analógica" da computação é sempre a parte cara.
Outro aspecto do PoE é que ele faz uso dos quatro pares do cabo Ethernet. Se você tem uma instalação antiga a 100Mbps, pode ter pontos de rede com apenas 2 ou 3 pares funcionando. As implementações mais comuns de PoE transmitem energia pelos pares 4-5 e 7-8, justamente os não utilizados em 100Mbps.
Muitos sites (que vendem cabos) recomendam instalar Cat6 com fios 23AWG ou até 22AWG quando se usa PoE. Isto não é necessário; os limites de potência do PoE são compatíveis com cabos Cat5e (26AWG), então o Cat6 24AWG já sobra. Só faz sentido preocupar-se com bitola de fio se você for usar "PoE estendido", recurso oferecido por alguns produtos que promete alcançar 250m a 10Mbps.
Ah, a velha pergunta: pode passar cabo de rede junto com cabo elétrico no mesmo duto?
Em geral, a resposta é não. A norma diz que fios elétricos e lógicos têm de ficar separados por 20cm se paralelos, e 5cm se cruzados (ou algo assim). Mas é fato que muita gente passa cabo de rede junto com cabo elétrico por falta de opção, e não dá problema. E aí?
Por um lado, o "vazamento" de energia por indução e por capacitância é algo real. Muita gente se queixa que luminárias LED acendem sem energia, simplesmente porque o fio passa perto de outro circuito energizado.
Por outro lado, a chance de um cabo de energia interferir na rede a ponto de prejudicar o tráfego é muito pequena, considerando as tensões, correntes e frequências da eletricidade residencial.
O principal motivo de não ser permitido passar cabos no mesmo conduíte é a segurança. O cabo de rede não tem a mesma isolação e proteção antichama que um cabo elétrico. Numa instalação nova, isto pode causar uma reprovação durante a inspeção do habite-se. (Difícil de acontecer no Brasil, mas em países desenvolvidos o fiscal da prefeitura inspeciona as instalações elétricas e hidráulicas antes de fechar a parede.)
Enfim, tente não misturar cabo de rede e eletricidade. Mas vale correr um risco calculado se for uma situação pontual, se for o único jeito de levar rede a um cômodo específico.
Agora, se você for obrigado a fazer isso em muitos lugares e/ou por distâncias mais longas, considere usar cabo blindado, com aterramento explícito nas pontas. Cabo Cat6 blindado acha-se à venda facilmente no Brasil. Ou vá de fibra óptica.
Além do fiasco do "PoE passivo", o que mais se encontra no mercado é componente de rede vagabundo. No Brasil, uma forma fácil de evitar o problema é optar pela marca Furukawa, de longa tradição no mercado local. Optei pela linha SoHo Plus, mais barata que a GigaLan.
Novamente, lembro que todos os componentes devem ser da mesma categoria (Cat5e, Cat6, Cat6A) pois eles são diferentes, apesar de parecerem iguais a olho nu. Aproveite para dar uma batida nos patch cables que você já possui para ver se são da categoria pretendida.
Além da qualidade, existe a questão da facilidade de crimpagem e instalação. Isso é muito subjetivo, no geral me entendi melhor com a linha SoHo Plus que com outras, mas sua experiência pode ser diferente. Existem ainda os componentes "de campo", crimpáveis sem ferramentas especiais, de que não gosto muito, mas tenho em estoque.
Os conectores RJ45 macho para Cat6 são mais chatinhos de fazer que os Cat5. Pessoalmente, gosto do Soho Plus pois ele é "passthrough", ou seja, os fios ultrapassam a ponta do conector. A única desvantagem é ter de aparar o excesso. O ideal é usar uma alicate crimpadora com guilhotina.
Algo semelhante acontece nos keystones: cada um tem uma forma diferente de conectar os fiozinhos, e a preferência pessoal vai dividir-se entre os diversos tipos. Pessoalmente, adquiri tomadas da linha Weg Refinatto mas não gostei dos keystones inclusos. Troquei por keystones Furukawa e, coincidência ou não, fui muito mais feliz. (O keystone tem encaixe padrão, então é possível trocá-lo mantendo o espelho original.)
Crimpar keystones em tomadas residenciais é particularmente chato, porque a posição de trabalho é ruim. Tem de cortar o cabo curto para ele caber de volta na caixa, e crimpar ali mesmo. Foi nesse aspecto que o keystone Furukawa funcionou melhor para mim, pois os fios entram pelo lado, e não por trás, o que torna bem mais fácil a crimpagem nessa posição adversa.
Terminações sempre podem ser refeitas; o que não dá pra trocar facilmente é o cabo. Neste você não pode economizar.
Cabos de rede podem ser feitos de diversos materiais. Cobre puro é o mais caro, mas é sempre uma aposta segura, e é obrigatório em instalações residenciais (ninguém fiscaliza, mas é). O polêmico CCA — alumínio revestido de cobre — funciona mas não é bom para instalações onde o cabo é muito manipulado, dobrado ou faz curvas fechadas. Evite se puder.
Outro problema do CCA é a durabilidade reduzida. Por serem finos, cabos de rede sofrem corrosão acelerada, se comparados à fiação elétrica. Um cabo de cobre puro pode durar de 10 a 20 anos, provavelmente mais se o ambiente não for agressivo, enquanto o CCA dura apenas entre 3 a 10 anos, péssimo portanto para instalações embutidas.
Cabos de alumínio puro, aço puro ou aço revestido de cobre são totalmente inadequados e existem apenas na seara dos cabos xing-ling ou falsificados.
Outra pergunta frequente é: qual o padrão de cabeamento correto: T568A (par 1-2 verde) ou T568B (par 1-2 laranja)?
Até onde pesquisei (e foi bastante, perguntei até ao ChatGPT) não faz diferença. O importante é usar o mesmo padrão na instalação toda, para evitar crossovers acidentais. Não há problema se algum patch cable seguir padrão diferente da rede fixa, desde que não seja um cabo crossover.
O governo dos EUA exige T568A em suas instalações, porém o mais comum mundo afora é T568B.
O padrão T568A tem raízes na telefonia, quando rede e telefonia podiam compartilhar fiação — o plug RJ11 de telefone entra numa tomada RJ45 de rede, e isso é de propósito. O padrão de telefonia é usar o par azul (4-5) para a linha 1, e o par laranja (3-6) para a linha 2, se houver. Quando o mesmo cabo transmitia telefonia e rede, o par 4-5 era para telefonia, e os pares 1-2 e 3-6 eram para rede.
Naturalmente, isso funciona até 100Mbps, que trafega em apenas dois pares. Gigabit e acima trafegam pelos quatro pares, e não podem conviver com telefonia.
O padrão T568B tem performance igual ao T568A, porém como o par verde toma o lugar do par laranja, isto sinaliza (para um connaisseur) que a instalação não mistura rede com telefonia. A maioria das instalações preferiu usar cabeamento separado para rede e telefonia, e a moda virou para T568B.
Um erro algo comum é achar que qualquer arranjo de fios serve, desde que seja igual nas duas pontas. Isto não é verdade! "Ah, mas eu sempre fiz assim e não dá problema." De fato os aparelhos testadores de rede mais simples (que só testam continuidade) não vão acusar problema, e talvez a rede funcione enquanto você trafega 10Mbps num cabo de 10Gbps, mas grande é a chance de dar bolo no futuro.
A sequência de pares do RJ45 parece arbitrária e estúpida, mas se você olhar bem, existe uma lógica. Alternam-se fios positivos e negativos; o par 4-5 (azul, originalmente para telefonia) ocupa o centro do conector, ladeado pelo par 3-6 (laranja para T568A, verde para T568B), e os pares 1-2 e 7-8 correm por fora.
Crossover (mistura de T568A e T568B) não é problema para comunicação de rede, as placas de rede lidam automaticamente com isso há 20 anos; mas pode ser problema para PoE. Alguns dispositivos PoE toleram o cruzamento de pares, outros não, é melhor não pagar pra ver.
Antigamente era mais fácil; você fazia o conector e ligava no computador. Se o link subisse, estava pronto. Hoje você não pode fazer isso, porque a) se um dos pares 4-5 ou 7-8 não estiver ok, o link ainda sobe, mas a 100Mbps; b) se você fizer crossover por engano, o link ainda sobe, mas PoE pode não funcionar.
Então, o mínimo necessário é uma daquelas ferramentas que testam continuidade de rede. Comprei uma que também testa PoE. Um problema fácil de acontecer em caixinhas de tomada residenciais é o parafuso de fixação do suporte "morder" o cabo e causar um curto – um problema difícil de diagnosticar se você não tiver o aparelho.
O ideal seria usar um analisador de rede, para verificar se tudo está dentro dos conformes, mas ele é absurdamente caro. Uma opção amadora, porém efetiva, é ligar um computador em cada ponta e simular tráfego de rede, usando iperf3 (Linux) ou similar.
Como já citamos antes, a alicate de crimpar RJ45 macho depende do tipo de conector escolhido. Existem pelo menos 3 tipos diferentes de conector macho para Cat6. A ferramenta de crimpar fêmeas é sempre a mesma, porém variando em qualidade. Tente comprar a melhor ferramenta que seu orçamento permite, pois facilita muito sua vida.
Se você estiver construindo ou entrando num apê novo, a dica é: faça logo o cabeamento de rede, antes de ocupá-lo. Se está em fase de construção, cuide disso ao mesmo tempo que a instalação elétrica. Pelo menos um ponto de rede por cômodo, cozinha inclusive; mas não é exagero se colocar dois.
Num primeiro momento isso vai parecer dinheiro jogado fora, porém as necessidades de conectividade só vão aumentando conforme o tempo passa. A dificuldade de passar cabo de rede também só vai aumentando, conforme móveis planejados entram no caminho, e outros cabos entopem os sempre escassos eletrodutos. Ninguém quer fazer buracos no teto ou na parede depois da obra pronta.
Nada substitui o cabo de rede real, o "cabo azul". Muita coisa se resolve com WiFi, mas a banda de 5GHz não atravessa mais de uma parede de alvenaria, então mesmo um apartamento pequeno precisa de infraestrutura de rede para conectar access points adicionais. Tecnologias como repetidores Wi-Fi sem-fio e Internet via rede elétrica são apenas paliativos e tendem a adicionar problemas misteriosos na sua rede, deixando-a lenta e pastosa sem motivo aparente.
Numa casa ou mesmo num apartamento, a tendência é usar câmeras IP PoE para segurança. É uma tecnologia muito conveniente — desde que você tenha puxado os cabos, ou tenha previsto os caminhos para passá-los.
Numa construção nova em cujo projeto você tenha "mando de campo", procure designar dutos lógicos ponto-a-ponto (direto do quadro para o ponto de consumo). Isto facilita passagem de cabos pós-obra, e mesmo a troca por fibra óptica daqui a 10 ou 20 anos.
Em vez de ficar esquentando a cabeça com a longevidade do cabo Cat6 ou Cat7, é muito mais fácil prever dutos e passagens de fácil utilização, para que você possa passar um cabo novo toda semana, se desejar. Até porque os próprios cabos não duram para sempre, e um dia podem estragar.
O método construtivo mais comum no Brasil ainda é a alvenaria. Ela é "inimiga natural" de instalações elétricas e lógicas, pela dificuldade de passar novos dutos. Por mais que se preveja dutos de passagem, eles sempre acabam virando o recurso escasso.
Cortar alvenaria para passar dutos é trabalho sujo, penoso e inerente desperdício de material. A tendência natural do construtor é fazer o mínimo necessário; ele não vai pensar em suas necessidades presentes e futuras, muito menos em raios mínimos e facilidade de passagem de cabos de rede. Cabe a você insistir em dutos numerosos, bem posicionados e de grande diâmetro.
Dutos passando por dentro da alvenaria, principalmente os embutidos na laje, têm a desagradável tendência de entupir, então faça questão de passar cabos durante a construção, para detectar e contornar o problema em tempo hábil.
Assim como nos dutos, o espaço dentro do quadro de distribuição também tende a ficar escasso. No mínimo absoluto, preveja um quadro de distribuição lógico, separado do elétrico, e grande o suficiente para acomodar equipamentos de rede como switches e modem. Melhor ainda se puder dispor do espaço para fixar um armário de equipamentos por perto.
O ideal seria um pequeno quadro adicional por cômodo. Se fizer isso, aproveite e centralize neste quadro as emendas entre interruptores e luminárias. (Não fiz isso e já me arrependi. Pode rir.) Isto facilita a manutenção e viabiliza automação residencial.
Preveja dutos de rede (e elétricos) para porão, sótão, e para os quatro lados da casa. Em algum momento, haverá a necessidade de passar um cabo imprevisto, e esses caminhos são coringas para resolver seu problema. (Acho que nem preciso citar a previsão de eletroduto entre o poste e a casa.)
Lembre-se sempre: as necessidades de conectividade e automação só fazem aumentar. O superdimensionado de hoje é o mínimo essencial de amanhã.
Procure usar caixinhas 4x4 para rede, pois na caixinha 4x2 não tem como deixar cabo sobrando. O cabo tem de ser cortado no comprimento justo para o keystone caber na caixa, e pode ficar curto em caso de retrabalho. Aliás, até eletricidade costuma ficar apertada em caixinhas 4x2, que deveriam ser banidas.
Cometi esse erro aqui, de usar caixinhas 4x2. Por sorte, em todos os casos o cabo passa por outra caixa próxima (não era para ser assim, mas os eletricistas adoram brincar de labirinto, passando fiação de uma caixa através de outras). Se o cabo ficar curto um dia, pelo menos posso migrar o ponto de rede.
Até mesmo a profundidade das caixinhas 4x2 e 4x4 é inadequada para tomadas de rede. Acredito que o desenho do keystone presume que o espaço por trás seja sempre oco, como numa parede de drywall.
Considerando que
hoje eu não instalaria mais tomadas de rede dentro de caixinhas na parede. Deixaria uma sobra de cabo com várias voltas, pendurado na parede, terminado em uma tomada sobreposta.
Nos anos 1990, puxamos um lance de fibra óptica para interligar duas filiais de uma malharia, que estavam de lados opostos de uma avenida. Foi um auê: o custo por metro era alto, não podia fazer emenda, não podia fazer curva mais fechada que 30cm de raio, tinha de contratar gente não sei de onde para fazer a fusão dos patch cords, o switch fibra era tão caro que usávamos conversores de mídia AUI e computadores para fazer roteamento.
Hoje em dia, graças à popularização dos provedores de Internet via fibra óptica, os componentes desse tipo de rede ficaram absurdamente baratos e fáceis de encontrar. A conectorização é simples, até as máquinas de fusão são robotizadas e fáceis de usar.
Não tenho muita experiência "hands-on" com fibra. Minha primeira incursão consistiu em "civilizar" a instalação de Internet do meu provedor, instalando uma caixa "roseta" e um patch cord. Agora estou interligando dois anexos à casa principal.
Ainda não vejo muito sentido em usar fibra dentro de casa. Claro, você pode deixar esperas se quiser estar 100% preparado para o futuro.
Obviamente, a fibra é interessante para longas distâncias. Mas também é a melhor opção para conectar prédios independentes, mesmo próximos, por conta da imunidade a raios e transientes. Além disso, a fibra pode coexistir impunemente com cabos elétricos.
O cabo drop também é muito resistente, fino e fácil de passar por eletrodutos. Talvez ele consiga passar aonde um cabo de rede não passaria, aí fibra óptica vira a sua única opção. Alguns eletricistas até usam cabo drop como sonda passa-cabos.
A proliferação da Internet via fibra óptica fez baratear muito a tecnologia. Mas isso vale apenas para os componentes mais utilizados pelos provedores de fibra. Se desviar dessa trilha batida, a brincadeira fica cara bem rápido.
Então, a resposta curta é: se for usar fibra em casa, use cabo drop monomodo com uma única fibra, terminado por conectores SC/APC, patch cords SC/APC-para-UPC, e conversores de mídia com portas SC/UPC.
Tudo isso se acha fácil no Mercado Livre para comprar, é fácil achar tutoriais de instalação no YouTube, etc. O cabo drop custa hoje (2025) menos de um terço do que custa um cabo Cat6, e os insumos e equipamentos das pontas são igualmente baratos.
Se, no futuro, você tirar o escorpião do bolso e comprar switches SFP, cujas portas costumam ser LC, basta trocar o patch cord para transicionar SC/APC para LC/UPC.
Em tese, a fibra óptica multimodo seria ideal para aplicações residenciais. Mais barata, mais flexível, aceita raios de curva menores, mais indulgente na conectorização, os equipamentos têm potencial de ser mais baratos. O alcance de até 500m x 10Gbps é perfeitamente suficiente.
Na prática, a fibra monomodo se popularizou de tal modo, que todo o ecossistema multimodo acabou sendo jogado para escanteio, e ficou relativamente caro. Outra desvantagem do multimodo é que comunicação bidirecional exige duas fibras.
A largura de banda teórica da fibra monomodo é muito maior que a multimodo. Então, se você vai passar fibra apenas por precaução, a fibra monomodo é uma aposta melhor.
A propósito, a comunicação em monomodo usa lasers infravermelho. Portanto, você a) não vai ver o sinal luminoso, e b) NÃO FIQUE OLHANDO para a ponta do conector, tentando enxegar a luzinha, sob pena de queimar sua vista!!! Utilize um medidor de sinal, incluso em cada kit de ferramentas de fibra óptica, para determinar se a fibra está iluminada.
Para uma conexão ponto-a-ponto, o equipamento mais simples que faz o serviço é o conversor de mídia. Barato e fácil de encontrar, possui uma porta RJ45 e uma porta de fibra. Difícil justificar algo diferente para uma rede residencial.
Os conversores de mídia implementam os padrões 100BASE-BX10 (100Mbps) ou 1000BASE-BX10-BiDi (gigabit). Costumam ter velocidade fixa, sem capacidade de negociação, e utilizam os comprimentos de onda 1310nm e 1550nm.
Note que o "BiDi" do 1000BASE-BX10-BiDi é um padrão de fato, não é oficial IEEE, apesar de ser o mais comum. O 1000BASE-BX10 original é 1490nm em vez de 1550nm, e tem alcance de apenas 10km. Então, se for misturar conversores de mídia de diferentes fabricantes, confira se esses números batem.
Para que se possa fazer comunicação bidirecional sobre uma única fibra, cada lado tem de transmitir num comprimento de onda diferente. Por isso, os conversores de fibra única existem em dois "gêneros" e geralmente são vendidos aos pares: BX10-U (1310nm) e BX10-D (1490/1550nm) comumente chamados de "A" e "B" ou "transmissor" e "receptor", respectivamente.
Para além dos conversores de mídia, temos os switches para "rede metro". Há diversos modelos, variando no número de portas, suporte a PoE, ou PoE reverso. Switches com múltiplas portas ópticas vêm com 50% de cada gênero (A ou B). Muitos são vendidos "pelados": só a placa de circuito, sem caixa, nem fonte.
Na figura acima, pode-se ver umas caixinhas pretas que são os transceivers. Elas seguem um padrão obsoleto, porém ainda largamente utilizado, denominado "1x9". Os conversores de mídia também usam esses carinhas. Também são empregados em projetos Arduino.
Subindo mais um degrau na cadeia alimentar, temos os switches com portas SFP, em que os transceivers são adquiridos em separado. Esta seria a melhor opção para usos "sérios", ou se você tem bolsos fundos.
Os transceivers SFP costumam usar conectores LC/UPC, o que obriga ao uso de um patch cord para transicionar de conector, ou para fazer fusão à fibra óptica fixa.
Os fabricantes não recomendam formar redes heterogêneas, com transceiver SFP numa ponta e 1x9 na outra. A comunicação provavelmente vai acontecer se todos os demais parâmetros coincidirem, mas é por sua conta e risco.
Assim como a crimpagem de Ethernet de par trançado, a conectorização de fibra óptica exige um punhado de ferramentas especiais. Porém elas são muito baratas, se você permanecer no ecossistema cabo drop + conectores SC.
A máquina de fusão, que permitiria fazer emendas com perda zero, essa custa caro. Mas um amador não precisa dela. Os conectores modernos têm perdas tão pequenas que nem mesmo os profissionais fazem fusão religiosamente a cada emenda, preferindo usar conectores de campo SC/APC.
O cabo drop não deve ser movimentado e a ponta não deve sofrer trações, sob pena da fibra quebrar. Embora seja prática comum, não é bom ligar o cabo drop diretamente ao equipamento. O ideal é usar um patch cord, análogo ao patch cable Ethernet: curto, fino, maleável e facilmente substituível.
A transição do cabo fixo para o patch cord poderia ser feita por fusão, mas provavelmente você vai usar um conector SC/APC. O conector APC possui ponta oblíqua que diminui perdas por reflexão do sinal, e é especialmente adequado pra emendas. Os modems ONU PON também empregam portas SC/APC.
Seja por fusão ou por conexão, a transição de cabo fixo para patch cord deve ficar protegida dentro de uma caixa especial, a "roseta". A roseta permite enrolar sobras de fibra mantendo o raio de curva sob controle, deixando uma reserva técnica para futura manutenção.
Não existem "conectores fêmeas", apenas acopladores para alinhar dois conectores machos, cujas pontas se encostam. (Sem piadas, por favor.) Jamais se deve acoplar SC/APC com SC/UPC. Sempre use um patch cord "ambidestro" para transicionar de um tipo a outro.
Fora o custo e a simplicidade, outra vantagem de emendar o patch cord com conector é que, se você trocar de equipamento, e a porta deste for diferente, basta trocar o patch cord.
Equipamentos terminais como conversores de mídia, switches, medidores de sinal e centrais OLT PON costumam ter portas SC/UPC ou LC/UPC. O conector UPC é otimizado para transmissão de potência.
Então, se você vai conectar o cabo drop direto no conversor de mídia, desprezando nosso conselho, ao menos deve terminar o cabo com o conector correto: SC/UPC. Nunca enfie um conector UPC numa porta APC ou vice-versa, sob pena de estragar o conector e/ou o equipamento.
Não é difícil fazer conectores de fibra, mas há algumas coisas a observar, principalmente para quem não faz isso todo dia. Este vídeo é o melhor que encontrei a respeito, ele tem diversas dicas que manuais convencionais às vezes não mencionam.
Uma vez que os insumos são tão baratos, não compre direto da China, mas sim de vendedores locais de boa reputação. Alguns têm inclusive vídeos próprios publicados no YouTube.
O tamanho da fibra a ser exposta varia um pouco de acordo com o modelo de conector. Mas em todo caso ele tem de ser exato. Ao comprar conectores, confirme que eles vêm com um gabarito, bem como a informação do tamanho (seja num datasheet, seja num simples panfleto) para futura referência.
Os kits de ferramentas típicos vêm com um gabarito genérico, aprenda a usá-lo. Use-o para conferir o gabarito fornecido junto com os conectores, porque alguns fornecedores mandam o gabarito errado...
Itens extras que os kits costumam não trazer, mas são necessários: álcool isopropílico, alicate de corte de alta qualidade para cortar os arames de aço do cabo drop, lenço de limpeza anti-estático, quiçá uma caneta limpadora de ponta de conector. E talvez um óculos-lupa, se você já passou dos 40, para conseguir enxergar o buraquinho do conector aonde se enfia a fibra.
Os cacos de fibras de vidro clivadas são perigosos, principalmente num ambiente residencial. Podem ir parar debaixo da unha, dentro do olho ou do sistema respiratório de alguém. Cate o caco após cada clivagem ou quebra acidental, talvez usando um pedaço de fita crepe, e descarte de uma forma que não haja chance dele voltar a circular.
Segue algumas gambiarras e anedotas de rede que já fiz, vi fazer ou ouvi falar, para deleite (ou desespero) de quem tenta fazer tudo certinho.
Naquela mesma malharia em que trabalhei, havia pelo menos dois lances de 160m de cabo, devido à distância entre blocos da fábrica. Pedi aos técnicos que não passassem junto de cabos elétricos, mas o fato é que ia tudo na mesma bandeja aérea, e estamos falando de elétrica industrial. Mesmo assim, nunca incomodou. 10Mbps em Cat5 valeu o risco calculado.
Numa outra filial dessa mesma malharia, para cobrir uma distância de 300m, usei dois lances com um hub no meio. Nunca ninguém reclamou...
A evidência anedótica é que 165m é o limite "no duro" do cabo Ethernet. Isso respeitando a velocidade máxima do cabo. Um cabo Cat5 com mais de 100m tem boas chances de trafegar 100Mbps, mas não gigabit.
Tem uns corajosos de YouTube alegando trafegar 10 gigabits em cabo Cat5e (olha aí a tentação em cabear a casa com esse cabo tão mais flexível e barato). Grosso modo, a banda passante de um cabo é inversamente proporcional ao comprimento. Então qualquer cabo trafega qualquer velocidade, mesmo com toda sorte de gambiarras, desde que seja curto o suficiente. Então não vale bater no peito e dizer que trafegou gigabit através de um patch cable Cat5.
Falando em YouTubers, há diversas receitinhas sobre como emendar cabos de rede diretamente. Dá uma curiosidade enorme de passar um analisador e ver o estrago causado por essa anátema.
Agora, nada supera em engenhosidade o pessoal das "redes UTP" e "redes metro". Essa galera tem de ser estudada pela NASA.
Rede metro(politana?) é uma rede FTTC caseira montada por pequenos provedores de Internet, usando conversores de mídia, switches de fibra ou modems PON. O sinal vai até cada rua ou quarteirão por fibra óptica, mas a distribuição para os clientes do entorno é feita com uma mistura de fibra óptica e Ethernet metálica.
(*) FTTC significa "Fiber to the Curb", ou seja, "fibra até o meio-fio", no sentido que a fibra chega até a rua do consumidor, mas não entra na casa dele. Outras siglas semelhantes: FTTH ("Home" = fibra entra dentro da casa), FTTR ("Room" = fibra até cada cômodo da casa), FTTB ("Building" = fibra até o edifício, de onde é distribuída por rede metálica, FTTN ("Node" = fibra até um armário intermediário, como na entrada de um condomínio de casas),
Rede metro já é uma evolução. Antes, havia a "rede UTP", inteiramente cabeada com Ethernet metálica desde o provedor (ou um ponto de presença, ou uma antena de rádio) até os clientes, com switches a cada 2 ou 3 postes, com raio de cobertura limitado a algumas centenas de metros.
O grande desafio da rede metro é alimentar os equipamentos ativos que "moram" no poste. A forma mais usual é usar PoE reverso. Mas sempre tem aquele cliente zé-ruela que reclama, que inventa que a conta de luz dele subiu, para arrancar descontos e indenizações. Para o PoE reverso ser confiável, tem de ser puxado de 2, 3 ou mesmo de todos os clientes, o que adiciona custo.
Em lugarejos mais bucólicos, o provedor pega energia da iluminação pública, na cara dura. É o ideal do ponto de vista puramente técnico. Quando isto não é tolerado, começa a gambiarra grossa: "PoE reverso" de 110V ou 220V pelos pares não usados do cabo de rede. Também é comum usar corrente contínua de alta tensão (165VDC) em vez de corrente alternada.
É proibido transmitir energia, muito menos de alta tensão, junto com cabos de telecom. Mas alguns provedores burlam essa proibição usando a alma de aço da fibra óptica como condutor. (E você achando que não existia PoE em fibra óptica...) Outra tática é passar um insuspeito cabo de telefonia ("cabo FE") junto com a fibra.
Tudo isso é assustador, principalmente porque o técnico da companhia elétrica ou mesmo de outro provedor não espera encontrar alta tensão em meio aos cabos de telecom. De vez em quando alguém morre por causa disso, e cria-se animosidade entre a companhia elétrica e os provedores de Internet.
Mas tem um lado romântico, de pioneiro de Velho Oeste, essa coisa de montar provedor usando a tecnologia disponível de formas completamente inesperadas e subversivas; instalando fibras e cabos nos postes de forma clandestina, sem notificar nem pagar à companhia elétrica; muitas vezes sendo tolerado pelas autoridades por ser a bóia de salvação num mar de exclusão digital, em tantos lugarejos ermos e paupérrimos.
Hoje em dia (2025/2026), o preço da rede PON já caiu tanto, que mesmo os menores provedores do interior já estão migrando suas redes metro para FTTH PON. O custo por cliente já é menor que outras opções, fora a confiabilidade muito maior.
Recordar é viver, não é mesmo? Segue as categorias obsoletas/antigas de cabo de rede, em ordem cronológica inversa.
Categoria 5 ou Cat5: velocidade máxima de 100Mbps x 100m. Considerada obsoleta para aplicações de rede, mas ainda se encontra à venda pois é utilizada em CFTV (câmeras de vigilância). Uma instalação de 20 ou 25 anos atrás deve apresentar esse tipo de cabo.
Categoria 4: especificação que não "colou", semelhantemente ao Cat7. Foi empregada por curto espaço de tempo em redes Token Ring (16Mbps) e Ethernet 100BASE-T4 (implementação inicial de 100Mbps sobre cobre usando 4 pares de fios, sem muito sucesso no mercado).
Categoria 3: primeiro cabo definido como "de rede". Utilizado tanto em telefonia quanto nas primeiras redes de cabeamento estruturado dos anos 1990, cuja velocidade era 10Mbps sobre 2 pares. Não era incomum encontrar cabos Cat3 com apenas 2 pares, ou 3 pares para acomodar rede e telefonia.
Categoria 2: cabo de telefonia com pares trançados. Foi utilizado em redes ARCNet (2Mbps) e Token Ring (4Mbps).
Categoria 1: cabo de telefonia com pares não-trançados. No contexto de comunicação de dados, foi utilizado apenas em tecnologias ligadas à telefonia e.g. ISDN e modems.
Os cabos de categoria 1, 2 e 3 permanecem disponíveis no mercado, inclusive na versão blindada. São utilizados em aplicações de baixa velocidade, como alarmes, automação e comunicação serial RS-485.
PON significa Passive Optical Network. É uma rede assimétrica onde uma fibra sai da central (OLT) e o sinal óptico vai sendo dividido por splitters passivos, até chegar aos clientes. Uma porta da OLT pode atender até 256 clientes num raio de até 60km, a depender da versão. Em cada cliente, temos um "modem" denominado ONU.
A vantagem óbvia da rede PON é a economia na infra-estrutura. Uma única fibra vai da central até um bairro, vai sendo dividida para atingir quarteirões, ruas, e finalmente os clientes individuais. Os splitters não precisam de energia elétrica. Só as extremidades possuem equipamentos ativos, o que torna a rede PON muito confiável.
Não é algo que você vá usar em sua rede residencial, mas não custa saber como funciona, até porque é grande a chance da sua Internet estar chegando à sua casa via PON.
A largura de banda da porta OLT é compartilhada por todos os terminais pendurados nela. Isso pode ou não ser um problema. Em provedores, geralmente não é, porque eles partem da premissa que os clientes não vão tentar usar 100% da banda por 100% do tempo. Mas alguns críticos dizem que a adoção de FTTH PON vai criar um gargalo no futuro.
No momento, as principais variantes são EPON e GPON. EPON é um padrão que procura imitar a Ethernet clássica, com foco em simplicidade e interoperabilidade. GPON é um padrão voltado para telecoms e provedores, melhor que o EPON em quase todos os sentidos, exceto que apresenta mais problemas de interoperabilidade (nem toda ONU funciona com toda OLT).