Conforme prometi no artigo sobre Mafra, voltei a visitar a região. O motivo mais premente foi ter esquecido completamente de visitar o pátio ferroviário de Rio Negro/PR. Este pátio é o centro das operações da ALL de Engenheiro Bley (Paraná) até Lages (SC), incluindo toda a Ferrovia São Francisco e o trecho catarinense da Ferrovia do Contestado (hoje praticamente sem uso).
Logo ao entrar na cidade de Rio Negro, vimos uma grande araucária e finalmente descobrimos em que parte desta árvore nasce a pinha (espécie de "fruto") que contém os pinhões (sementes comestíveis).
A cidade de Rio Negro em si é no estilo de Mafra — o lugar pacato padrão — embora talvez um pouquinho mais desenvolvida e organizada que sua gêmea. Também notei mais prédios históricos conservados.
A geografia torna muito fácil encontrar o que eu estava procurando: o pátio ferroviário. Ele é muito longo (mais de 2km) e movimentado, e talvez por isso haja viadutos rodoviários nas duas pontas, e duas passarelas para pedestres no meio. Ruas margeiam o pátio nos dois lados, de modo que é tudo muito fácil de visitar.
Além das estradas sempre margeando os trilhos, os viadutos e passarelas proporcionam excelente visão do pátio e dos trens. Parece ter sido feito sob medida para trainspotters. O movimento é grande, pois ali são formados todos os trens para São Francisco/SC, e deve haver tráfego vindo do Rio Grande do Sul. Não estivesse acompanhado, e estivesse munido de mais e maiores cartões de memória, poderia ficar ali o dia inteiro.
As oficinas anexas ao pátio são parcialmente abertas, pode-se ver a movimentação interior a partir da rua. A segurança é uma cerca simples de arame. Provavelmente ali se trabalha 24x7 e o lugar nunca fica desguarnecido.
O Tronco Principal Sul é uma ferrovia mais recente e acomoda locomotivas bem maiores que a centenária São Francisco. O pátio de Rio Negro faz parte deste tronco, e as locomotivas grandes marcam presença por ali. Além do TPS, elas podem trafegar entre Curitiba, Ponta Grossa, e Apucarana. Mas não na ferrovia São Francisco nem na descida de Curitiba a Paranaguá, pois enroscariam em curvas, pontes ou túneis.
Abaixo segue a foto do pátio visto de uma das passarelas. Elas parecem seguras, mas "balançam" ou "tremem", e mais ainda quando um trem está passando por baixo. Não é indicado para pessoas suscetíveis a enjôos e vertigens.
O pátio de Rio Negro é o maior de toda a região, só não tem um triângulo, como seria de esperar. Mas há um triângulo a menos de 1km, no entroncamento com a linha São Francisco.
O outro "objeto" que eu tinha de visitar em Rio Negro era o "outro lado" da antiga ponte ferroviária. Como eu disse no artigo sobre Mafra, a ligação entre Mafra e Engenheiro Bley tinha um traçado diferente do atual, e era denominada "Ramal do Rio Negro".
Ao contrário do que acontece no lado mafrense, o entorno da ponte antiga em Rio Negro é bem urbanizado e insuspeito. (Em 2018, também o lado mafrense estava bem mais urbanizado.) O lado norte apresenta mais dois viadutos além da ponte, ambos seguindo o estilo "metal rebitado" do início do século XX.
Há uma ideia de reaproveitar a ponte para trânsito de automóveis, já que a ligação entre os centros de Mafra e Rio Negro é uma ponte de mão dupla mais a estreita "ponte metálica" de mão única. Acho a ideia meio forçada, mas a necessidade de mais pontes eu constatei em primeira mão (já digo mais a respeito).
Este conjunto de obras de arte continuou em uso por algum tempo depois da desativação do "Ramal do Rio Negro", porque o Batalhão Ferroviário ainda estava do lado errado do rio, até a mudança do mesmo para Minas Gerais. O espaço físico hoje abriga a 11a Bateria de Artilharia Antiaérea, sem resquício da ferrovia original fora os viadutos.
Para voltar de Rio Negro para Mafra, o trânsito estava bem pesado. Levei meia hora ou mais, isso para cobrir uma distância de dois quarteirões! A combinação de Páscoa com dia de pagamento deve ter colaborado, mas imagino que o problema se repita a cada hora do rush.
Realmente é um problema desproporcional ao tamanho minúsculo das cidades. Pontes são sempre um recurso escasso, em Recife todos temíamos as pontes do Pina, mas a população era 70 vezes maior.
Tive a impressão que o problema da ponte é piorado pelo mau planejamento do trânsito nas imediações. No lado mafrense, há um "trevo" maluco onde todo mundo quer (ou precisa) mudar de faixa, e isto acaba represando o tráfego vindo da ponte. Providenciar mais pontes sem resolver esses gargalos não vai ajudar muito.
O plano inicial era pernoitar na área mas acabou não acontecendo. Se fôssemos fazer isso, teríamos visitado o Parque Ecoturístico. Apenas passei pela entrada do parque, para ver onde era e para vislumbrar a bela construção que um dia foi um mosteiro.
Mais duas constatações a respeito de Rio Negro, estas relacionadas a preços. Primeiro, é incrível como as coisas são mais baratas que Joinville — seja uma água mineral, uma vassoura ou um carrinho de mão. Sim, eu sei que as pessoas têm renda menor, que na cidade grande a gente tende a comprar tudo no shopping, etc. mas mesmo assim é espantoso. Ter uma renda "de cidade grande" morando num lugar desses é a receita infalível para ficar rico.
A outra constatação foi que o etanol custa R$ 1,99 do lado paranaense, e mais de R$ 2,50 do lado catarinense. A gasolina custa mais ou menos o mesmo nos dois lados. Estou curioso para saber a justificativa.