Durante a primeira peregrinação pela ferrovia do Contestado, cobri apenas uma pequena parte do trecho Porto União/SC a Marcelino Ramos/RS. Nesta segunda visita à região, procurei cobrir esta lacuna, e também revisitei alguns arredores de Porto União.
Para quem não leu o outro artigo, "Ferrovia do Contestado" é a denominação informal do trecho catarinense da ferrovia Itararé-Uruguai: a primeira ligação terrestre "rápida" entre SP e RS e dali para os países platinos.
O primeiro dia foi despendido basicamente no deslocamento até Porto União/SC, e na visitação da região em torno, cobrindo alguns pontos que ficaram a descoberto no primeiro passeio: antigo pátio de cargas, cachoeira do "km. 13", Legru e Timbó.
Como o rio Timbó está a leste de Porto União, minha intenção inicial era margear o rio até a localidade de Timbó Grande, local que foi o "arraial de Canudos" da Guerra do Contestado. Acabei indo apenas até Santa Cruz do Timbó e voltei; a estrada estava incrivelmente poeirenta, e nem a localidade nem o rio me animaram a ir em frente.
É curioso como ainda parece pesar a herança do Contestado sobre estas comunidades. A sensação foi a mesma que tive quando visitei as localidades que margeiam os rios Negro e Iguaçu.
Dois outros fatos, frutos unicamente do acaso, também sugerem que a região do Contestado está patinando. Em Mafra, no posto em que parei para tomar um café, a moça do caixa me perguntou "se Joinville tem bastante emprego". Em Porto União eu tive o hotel só para mim. Segundo o recepcionista, boa parte do público do hotel é justamente de gente que saiu de Porto União e aparece de quando em vez para visitar os parentes.
Até o trem turístico de Porto União, um grande atrativo turístico, está parado há algum tempo, por briga política, ao que parece. Estão brigando para decidir a quem pertence a locomotiva 310 e enquanto isso ela fica parada (por que não usam uma locomotiva diesel então?). A capacidade do brasileiro em fazer "política negativa" sempre surpreende.
De minha parte, fiz o que pude para ser um bom turista e parei na lojinha da Doble W. Como não bebo muito, comprei umas garrafinhas-miniatura de Steinhäger. Inicialmente achei que tinha parado em frente a um quartel (devido aos prédios antigos e muito bem cuidados), mas era justamente a fábrica de bebidas.
Enfim, uma vez em Porto União fui percorrer um trecho da antiga ferrovia (hoje estrada de rodagem) no Legru, que tinha deixado de lado da outra vez. Nada de especial, apenas o fetiche de pisar todo o trecho original da subida da serra. (Nos anos 1940 foi construída uma variante um pouco a leste.) É interessante refletir que por aquele lugar tão quieto passou Getúlio Vargas a caminho de assumir a presidência na revolução de 1930. Também passaram os presidentes Afonso Pena e Theodore Roosevelt, nos anos 1910.
Da outra vez me perdi na região do "quilômetro 13", mas desta feita tive melhor desempenho. Ainda por cima as encruzilhadas receberam placas novas, mais claras. Localizei facilmente a famosa "cachoeira do km. 13", onde o rio Pintadinho passa por baixo dos trilhos.
Foi um desatino visitar sozinho este local, pois é ermo e perigoso, mas tudo correu bem. Este site possui dicas de como chegar lá.
Mais um videozinho pessoal da visita ao local:
A enxurrada de 2014 fez desabar pedras, desmanchou aterros e tornou a ferrovia definitivamente intransitável. Sem manutenção, o mato tomou conta de tudo. Desde 2019, uma iniciativa local (Trem das Etnias) está consertando o trecho entre o centro de Porto União e a estação de Stenghel, para que pelo menos o antigo passeio de maria-fumaça volte a acontecer.
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